Sem votos para impedir a aprovação da reforma trabalhista, um grupo de senadoras de oposição protagonizou um papelão ao ocupar a mesa do Senado para atrapalhar a votação. Além de desrespeitoso à instituição, foi um gesto machista. As senadoras usaram a condição feminina porque sabiam que o presidente da Casa, Eunício Oliveira (PMDB-CE), não usaria a força para tirá-las das cadeiras, como faria se os protagonistas da ocupação fossem homens. Eunício cortou a luz e os microfones – e as imagens do plenário às escuras e das mulheres fazendo piquenique na mesa correram o mundo.
Senadores (homens) contrários à reforma, como Lindbergh Farias (PT-RJ), pegaram carona no protesto das mulheres e insuflaram o tumulto. Deputados em busca de holofotes, como Marco Maia (PT-RS), e que não conseguiram impedir a aprovação das mudanças na Câmara fizeram o mesmo.
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As senadoras têm razão em protestar contra itens da reforma, como o que autoriza o trabalho de grávidas e lactantes em locais insalubres. O próprio governo reconhece que esse ponto do projeto foi um erro e se dispôs a mudá-lo por medida provisória. Como a credibilidade do Planalto é muito baixa, a oposição teme que a promessa não seja cumprida. A desconfiança é legítima, o direito de ser contra a reforma também, mas a forma escolhida para impedir a votação fere o regimento interno e as regras de civilidade.
A cena insólita fez lembrar o que ocorreu no Rio Grande do Sul em 1997, quando servidores e sindicalistas invadiram o plenário para impedir a aprovação do projeto que autorizava a privatização da Companhia Riograndense de Telecomunicações (CRT). O projeto acabou sendo aprovado, a CRT foi vendida e a invasão do plenário entrou para a história dos atos de desrespeito às instituições.
Perto das 19h, Eunício conseguiu reassumir sua cadeira e iniciar o processo de votação. A reforma acabou sendo aprovada com folga. Foram 50 votos a favor e 26 contrários.
Embora a aprovação da proposta seja uma vitória do governo Temer, não tem o condão de garantir a permanência do presidente no poder. O problema de Temer é a denúncia do procurador Rodrigo Janot, por corrupção passiva, e as que ainda virão, por obstrução de Justiça e associação criminosa.
Desinformação
O debate sobre a reforma trabalhista acabou sendo prejudicado pela estratégia dos opositores de semear a desinformação. O projeto não retira os direitos assegurados na constituição, como o 13º salário, o fundo de garantia, as férias remuneradas e a jornada semanal de 40 horas.
Aliás
Michel Temer ressuscita o conselheiro Acácio, o inesquecível personagem de Eça de Queirós, e diz que acatará a decisão da Câmara, seja ela qual for. A pergunta é: poderia não acatar?