Preso pela Polícia Federal um dia antes de tentar sair do país, o ex-presidente do Banco do Brasil Aldemir Bendine foi indicado ao comando da Petrobras em 2015 com a missão de combater a corrupção na estatal exposta pela Operação Lava-Jato em 2014. A incumbência parece ter sido ignorada. Antes mesmo de assumir o posto, Bendine teria pedido R$ 3 milhões de propina à Odebrecht para, em troca, não prejudicar a empresa em contratos já firmados.
A Lava-Jato completaria um ano de diligências em 2015 e, ao que tudo indica, não havia assustado a quem precisaria assustar. O executivo passou a chefiar a Petrobras no dia 9 de fevereiro comprado por Marcelo Odebrecht e encarregado de fechar os olhos para irregularidades nos diversos negócios da empreiteira com o governo.
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Pela delação de Marcelo Odebrecht, os procuradores descobriram que a intenção de Bendine em se dobrar à corrupção viria desde a chefia do Banco do Brasil, onde ficou de 2009 a 2015. Para viabilizar a rolagem de dívida de um financiamento, teria pedido ao dono da empresa R$ 17 milhões. Experiente nesse tipo de transação, Marcelo desconfiou da falta de influência e não desembolsou o valor.
Se o presidente da Petrobras, estatal foco da Lava-Jato, não estava preocupado em ser pego, o que pode garantir que a corrupção, resultado da relação promíscua entre políticos e empresários, tenha diminuído no Brasil? Em março deste ano, o deputado Rodrigo Rocha Loures foi flagrado com uma mala abarrotada de dinheiro. O presidente da República, Michel Temer, foi denunciado por corrupção passiva por fatos ocorridos no exercício do mandato. O senador Aécio Neves foi pego em interceptação telefônica pedindo R$ 2 milhões a Joesley Batista. No terceiro ano da operação, que contabiliza 42 fases em 2017, esses tipos de flagrantes continuam acontecendo. É legítimo imaginar que neste exato momento um agente público esteja recebendo dinheiro para ir contra um interesse popular ou que algum eleito esteja embolsando recursos de impostos desviados.
Na entrevista coletiva desta quinta-feira, o procurador Athayde Ribeiro Costa criticou o desinteresse do ministro da Justiça, Torquato Jardim, pela força-tarefa. O integrante do Ministério Público disse que Torquatto não procura saber com os integrantes da investigação sobre a necessidade de efetivo e o orçamento à disposição. O ministro rebateu e disse que não tem desapreço pela operação.
– Quanto a não ter feito visita social, não me constava do protocolo do ministério que eu devesse fazer visita oficial à Lava-Jato. Se ele acha isso necessário, vamos combinar um café – sugeriu.
A fala de Torquato pode ter causado surpresa a quem conhece seu temperamento, principalmente quando é perguntado sobre o combate à corrupção. Dias depois de ter sido nomeado, na Rádio Gaúcha, o ministro se irritou com questionamento sobre sua nomeação e a tentativa de barrar a operação:
– Isso é uma teoria esquizofrênica de conspiração. Não há ninguém tentando acabar com a Lava Jato. Já dei uma dúzia de entrevistas sobre o tema. É manchete clara – disse, pouco antes de tirar bruscamente os fones que usava para escutar os jornalistas.