A cinco dias do depoimento do ex-presidente Lula ao juiz Sergio Moro, em Curitiba, o ex-diretor da Petrobras Renato Duque fez uma curiosa delação não premiada. Foi uma espécie de aperitivo para um futuro acordo em que contará detalhes das ilegalidades de que participou, em troca de uma redução de pena. Até então, Duque vinha adotando a estratégia de ficar em silêncio, mas dois anos e dois meses de prisão preventiva quebraram sua resistência. No depoimento a Moro, Duque incriminou o ex-presidente Lula, mas não apresentou provas.
Indicado pelo PT para uma das diretorias da Petrobras em 2007, Duque deu a Moro novos elementos para enriquecer o roteiro do interrogatório de Lula. Disse, por exemplo, que o ex-presidente comandava o esquema de propina na Petrobras e que pediu para não manter contas no Exterior. Contou que foi o ex-ministro Paulo Bernardo quem lhe apresentou o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, como a pessoa que trataria do dinheiro a ser repassado ao partido, ao próprio Lula e ao ex-ministro José Dirceu.
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Duque acenou com a apresentação de provas em caso de aceitação da delação premiada:
– Quero disponibilizar todas as provas que eu tiver. Estou aqui para passar essa história a limpo. Hoje sou o preso com mais tempo, isso tem a decorrência de um sofrimento pessoal, mas principalmente da família, então era isso que eu queria falar.
Se não há dúvida sobre o repasse de dinheiro de origem ilícita para as campanhas do PT, a manifestação de Duque acrescenta novos pontos de interrogação em relação ao destino da propina cobrada de fornecedores da Petrobras. O ex-diretor da estatal disse que parte do dinheiro ia para Lula. Como ele mesmo afirmou que o ex-presidente não queria saber de contas no Exterior, e seu sigilo bancário no Brasil já foi quebrado, onde estaria o dinheiro? Em Rio Grande, Lula disse que, quando foi levado na condução coercitiva, os agentes da Polícia Federal vasculharam seu quarto para ver se tinha dinheiro escondido no colchão.
No interrogatório do dia 10, Moro deverá repetir a pergunta feita pelo juiz Vallisney de Souza Oliveira, sobre a renda de Lula. E acrescentar: onde o senhor guarda o dinheiro?