Conversar com estudantes de jornalismo é um dos meus esportes preferidos. Nesses encontros, volto no tempo e me vejo com 17, 18 anos, recém-chegada do Interior, tentando descobrir os encantos e as agruras da profissão que escolhi. Em maio, mês do aniversário de ZH, nós, jornalistas, nos distribuímos entre as faculdades para conversar com alunos e professores. Neste ano, a Lúcia Pires, que organiza os encontros, me escalou para a Uniritter, campus Zona Sul.
Era quarta-feira e saí da Redação com a coluna fechada, disposta a responder a todas as perguntas. No texto da abertura da coluna, falava do toma lá dá cá dos prefeitos, que trocaram o apoio à reforma da Previdência pela renegociação das dívidas com o INSS. Fiquei conversando com os professores enquanto os alunos se acomodavam no auditório, celular na mão para não perder alertas de notícias. Às 19h40min, o professor Leandro começava a me apresentar à turma quando saltou na minha tela uma mensagem de WhatsApp da Débora Cademartori, que trabalha comigo na coluna. "BOMBA", dizia em letras maiúsculas. Em seguida mandava o link para o texto do jornalista Lauro Jardim, de O Globo, com as primeiras informações sobre a delação premiada dos donos da JBS.
Leia mais:
Peguei o microfone e comecei a ler o texto para os alunos. Ia me inteirando do tamanho da bomba junto com eles. Foi uma experiências singular. Ao vivo, eles tiveram uma amostra do que é trabalhar movido pela adrenalina. Se eu contasse, não teria conseguido descrever com tanta precisão a rotina de um repórter, editor ou colunista em dias como a quarta-feira da Friboi.
Falei um pouco sobre a dor e a delícia de ser jornalista, disse a eles o que sempre digo quando me perguntam se vale: que, 35 anos depois de ter saído da PUC, eu começaria tudo outra vez, se preciso fosse escolher uma profissão. Respondi a umas poucas perguntas, sempre com um olho no celular e o outro na plateia de jovens curiosos e atentos, como tem de ser um futuro jornalista.
Tive de interromper a conversa para voltar à Redação às pressas e atualizar a coluna. De lá para cá, foram horas e horas de trabalho intenso, tentando entender e explicar em áudio, vídeo, texto longo e microtexto de Twitter a extensão da crise.
Encerro a semana com a sensação de que vivemos alguns anos em poucos dias. Aos alunos da Uniritter, reitero meu pedido de desculpas e renovo o compromisso de voltar lá para concluir nosso bate-papo assim que a poeira baixar.