As avarias produzidas no Rio Grande do Sul pelo modo como a Odebrecht tocava as obras públicas e se relacionava com a classe política poderiam ter sido bem mais profundas se duas obras de grande porte tivessem saído do papel: o metrô de Porto Alegre e a ERS-010, conhecia como Rodovia do Progresso. A empresa integrava o consórcio que apresentou uma proposta faraônica para o metrô, com estações que ficariam bem em Dubai, mas eram incompatíveis com o orçamento e com a situação financeira da prefeitura da Capital e do governo do Estado.
Há exatos dois anos, a prefeitura de Porto Alegre rejeitou as duas Propostas de Manifestação de Interesse (PMI) para a implantação do metrô e fez com que o processo retrocedesse à fase de estudos. O projeto entregue pela Bustren P.M. não atendeu aos requisitos pedidos no edital. O do consórcio Invepar/Odebrecht, que optou pelo modelo construtivo shield, também conhecido como "tatuzão", custaria três vezes mais do que o orçamento disponível. A verba prevista era de R$ 3 bilhões à época e a proposta do consórcio integrado pela Odebrecht passaria de R$ 9,5 bilhões.
Sabendo-se agora o quanto a Odebrecht inflava o preço das obras para cobrir a propina que distribuía a agentes públicos, quem lamentou a suspensão do projeto deve dar graças ao então prefeito José Fortunati e a seu secretário de Gestão, Urbano Schmidt, que frearam o trem naquele momento. Lamentavelmente, a crise das finanças inviabilizou o metrô, mesmo com um projeto que previa outro modelo de construção e estações mais modestas.
Outra obra que a Odebrecht esteve prestes a executar foi a Rodovia do Progresso, uma via expressa que ligaria Porto Alegre e o Vale do Sinos e seria construída em regime de parceria público-privada. A empresa venceu a licitação realizada no governo de Yeda Crusius para a Proposta de Manifestação de Interesse e elaborou um projeto orçado em R$ 4 bilhões. Apoiado pela Agenda 2020 e pela Associação dos Municípios da Grande Porto Alegre, à época presidida por Jairo Jorge, o projeto esbarrou na divisão do governo de Tarso Genro e acabou não saindo porque o Estado não quis assumir os compromissos financeiros que a empreiteira exigia como contrapartida. Mesmo com a cobrança de pedágio, a Odebrecht queria que o Estado bancasse as desapropriações e pagasse um valor anual que foi considerado exorbitante pelo Palácio Piratini.
Foi o apoio a essa obra um dos motivos invocados por Alexandrino de Alencar para justificar doações legais para a campanha de Jairo Jorge. O executivo da Odebrecht disse que, mesmo a obra não tendo sido executada, a empresa reconheceu o empenho do então prefeito de Canoas.
Esse é um dos problemas das autoridades que se relacionaram com a Odebrecht: mesmo os que apoiaram projetos por convicção de que eram importantes para a economia do Estado, acabaram aparecendo nas delações como se tudo envolvesse troca de favor.