Pelo barulho que os sindicatos fizeram na véspera, imaginava-se que o protesto contra a reforma da Previdência mobilizaria mais gente. A prometida paralisação não se consumou na maior parte do Brasil. São Paulo teve a manifestação mais significativa, na Avenida Paulista, com direito a discurso do ex-presidente Lula dizendo que a reforma vai impedir milhões de trabalhadores de se aposentarem.
O fracasso das manifestações na maioria dos Estados não significa que os brasileiros tenham sido convencidos pelo governo de Michel Temer de que sem a reforma da Previdência os programas sociais ficarão ameaçados. Essa compreensão existe em uma parcela da sociedade, mas não há sinal de que seja majoritária.
Uma hipótese para a baixa adesão aos protestos é o medo do desemprego. Trabalhadores do setor privado pensam duas vezes antes de parar em um dia útil para protestar contra o governo, correndo o risco de ter descontado um dia de salário. Outra hipótese, o ceticismo em relação à possibilidade de o projeto ser votado pelo Congresso em meio às turbulências da Lava-Jato.A terceira é a de que o assunto ainda não tenha entrado na agenda dos jovens: aposentadoria é preocupação para quem já entrou na segunda metade da vida.
Seja qual for o motivo, o governo Temer tem razões para comemorar a limitada adesão. Se não há, nas ruas, uma rejeição massiva à proposta, fica mais fácil convencer deputados e senadores de que a reforma é necessária para o país voltar a crescer. O texto encaminhado ao Congresso segue a lógica das negociações sindicais: o governo pediu o máximo para ter como ceder em algum ponto na negociação com deputados e senadores da base aliada.
A proposta precisa ser aperfeiçoada – e há margem para atenuar, por exemplo, as exigências impostas aos trabalhadores do campo –, mas não há como o ministro Henrique Meirelles abrir mão de pontos como a idade mínima para a aposentadoria. Com a oposição, o governo sabe que não tem jogo: já é bandeira de campanha. O discurso fácil de que o Brasil não precisa de reforma é retórica eleitoral. Deputados e senadores ameaçados de demissão pelas urnas de 2014 encontraram uma tábua de salvação.