Uma semana depois de ter nomeado Moreira Franco como ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Michel Temer veio a público informar, nesta segunda-feira, que não tenta interferir na Operação Lava-Jato e que suas ações não servem para blindar seus amigos. O pronunciamento, que chegou depois de um inevitável desgaste com a opinião pública, repete o argumento usado na defesa contra as liminares que anularam a promoção de Moreira, citado 34 vezes na delação do ex-vice-presidente de relações institucionais da Odebrecht, Claudio Melo Filho.
Cogitado desde o ano passado por Temer e sua equipe, o anúncio sobre o "limite" aos integrantes da Esplanada envolvidos na investigação mais famosa do país também veio com alguns dias de atraso. Ficou estabelecida uma "linha de corte". Conforme a decisão do presidente, só serão afastados provisoriamente os ministros que forem denunciados ao Supremo Tribunal Federal, corte de quem tem foro privilegiado. A saída definitiva deve ocorrer se o ministro virar réu, ou seja, se o STF aceitar a denúncia.
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O governo vem, desde o afastamento de Geddel Vieira Lima, ressaltando à imprensa que a popularidade não é importante e que o foco está em "botar o país nos trilhos".
Se Moreira estivesse na mesma situação no ano passado e fosse nomeado ministro, Temer já teria desistido de dar a promoção ao amigo. Seguiria o exemplo de Henrique Eduardo Alves, que foi pressionado a pedir demissão em junho do ano passado, quando o acordo de delação de Sergio Machado veio à tona. Investigado na Lava-Jato, Romero Jucá ficou apenas uma semana à frente do Ministério do Planejamento devido à repercussão negativa de sua nomeação. Temer ainda era interino nessa época.
É consenso entre os integrantes do governo que as decisões tomadas, agora, não podem ser reavaliadas. O Palácio do Planalto percebeu que a reincidência exagerada de reconsiderações havia virado piada na internet e resolveu mudar de rumo. Na segurança de sua cadeira, agora como efetivo, com a economia dando sinais de recuperação e com o respaldo do Congresso, Temer considera que voltar atrás de nomeações ou de medidas polêmicas é atitude de um "governo fraco".
Aliás
O PMDB vai escolher o candidato do partido à Presidência da República só em 2018, ano da eleição. Não há como saber qual figura sobreviverá à Operação Lava-Jato neste ano.