Se foi na condição de amigo que Gilmar Mendes jantou com o presidente Michel Temer no domingo à noite, ele mesmo deve tomar a iniciativa de se declarar impedido de participar do sorteio para escolha do novo relator da Operação Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal. A isenção de Gilmar Mendes vem sendo questionada desde a morte do ministro Teori Zavascki, pelo histórico de suas manifestações públicas, por suas ligações com o PSDB e pela proximidade com o presidente da República.
Da mesma forma, é legítima a preocupação com a possibilidade de, no sorteio, a relatoria cair para Dias Toffoli, por suas ligações históricas com o PT. Por coincidência, os dois integram a segunda turma, a mesma de Teori. O ministro Marco Aurélio Mello, integrante da primeira turma, defendeu na Rádio Gaúcha a tese de que o sorteio deve ficar restrito aos integrantes da turma de Teori: Gilmar, Dias Toffoli, Ricardo Lewandowski e Celso de Mello.
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A condição de ministro do Supremo, e ainda mais presidente do Tribunal Superior Eleitoral, não combina com a de conselheiro do chefe do Executivo nem com a de militante partidário. Essa dificuldade em encontrar um ministro que seja considerado imparcial resulta da forma como são escolhidos os integrantes do Supremo: por indicação do presidente da República.
A presidente Cármen Lúcia já começou a consultar os colegas para definir como será definido o relator, tarefa prioritária na volta do recesso. Nesta segunda-feira, a ministra também conversou com os auxiliares de Teori, reforçando as especulações de que poderá avocar para si a tarefa de homologar as delações premiadas dos executivos da Odebrecht.
Na mesma entrevista ao Gaúcha Atualidade, Marco Aurélio disse que, por conhecer a ministra Cármen Lúcia, não acredita que ela puxe para si a tarefa de homologar as delações da Odebrecht. Segundo mais antigo na Corte, o ministro não considera necessário homologar as delações antes do final do recesso e diz que o ideal é esperar a nomeação do novo relator e deixar para ele essa tarefa.
Antes de Temer dizer que só nomeará o sucessor de Teori depois que o STF escolher o relator, Gilmar Mendes opinou que os processos da Lava-Jato deveriam passar para o novo ministro.