Com 450 votos a favor e 10 contrários, "o malvado favorito" dos inimigos da ex-presidente Dilma Rousseff foi descartado pelos antigos aliados. Na sessão que acrescentou o prefixo "ex" ao cargo que ocupou por quatro mandatos, Eduardo Cunha tentou arrancar um voto de gratidão por ter "livrado o país do PT", mas poucos se mostraram dispostos a sacrificar seu futuro político para retribuir o favor. Ao final do discurso chorou, disse que a cassação dele fortalece a narrativa do golpe e pediu aos colegas que pensassem no prejuízo que estavam causando a ele e à família por encerrar sua carreira política.
Cunha nem perdeu muito tempo repetindo a cantilena do "truste" do qual era "usufrutuário". Deixou a "defesa técnica" para o advogado e reconheceu que poderia falar 30 horas e não seria ouvido.
O homem que na presidência da Câmara agiu como senhor do raio e do trovão saiu da tribuna aniquilado. Cabisbaixo, com o polegar e indicador na boca, era a sombra daquele Cunha anterior à decisão do Supremo Tribunal Federal que o afastou da presidência e do gabinete. A renúncia ao comando da Câmara não foi suficiente para salvar-lhe o mandato. Nem a ameaça do advogado de que os deputados poderiam estar abrindo um precedente e que qualquer um poderá ser a próxima vítima convenceu os parlamentares a absolverem o colega da acusação de quebra de decoro. Assim como as pedaladas fiscais foram o pretexto legal para o impeachment de Dilma, a quebra de decoro é a única justificativa possível para cassar um deputado, mesmo que o verdadeiro motivo seja o conjunto da obra.
Sem mandato, Cunha fica ao alcance do juiz Sergio Moro. E corre o risco de ser preso. O ministro Teori Zavascki bem que tentou enquadrá-lo, mas Cunha usou de todas as manobras possíveis e imagináveis para retardar o julgamento. Entre outras criações, indicou testemunhas que vivem no Exterior e que têm o direito de indicar quando podem ser ouvidas.
Teori não conseguiu fazer o processo andar na velocidade que gostaria, mas tem o crédito pelo enfraquecimento de Cunha. Afastado da presidência da Câmara, ficou impedido de usar o cargo para manter e ampliar seu poder. Os ministros do Supremo reduziram o oxigênio a níveis mínimos. A Câmara desligou os aparelhos e decretou a morte política de um personagem que nos próximos oito anos só pode ressuscitar como vingador, contando o que sabe sobre antigos parceiros de negociatas.