Com 75 anos de idade, mais de 30 de vida pública e fama de raposa, Michel Temer deveria saber que a política tem a sua própria Lei da Gravidade. O interino achou que, por assumir no lugar de uma presidente desgastada, podia desafiar essas leis universais e escolheu ministros que não tinham como se sustentar no ar. Em vez do prometido ministério de notáveis, nomeou uma equipe gestada no útero no Congresso, com um núcleo formado por cinco amigos do peito: Eliseu Padilha, Romero Jucá, Geddel Vieira Lima, Henrique Eduardo Alves e Moreira Franco.
Dois desses, velhos companheiros do PMDB, foram abatidos pelo delator Sérgio Machado. Primeiro Romero Jucá, derrubado pelas gravações de Machado com 12 dias no cargo. Ontem, Henrique Alves, o ministro do Turismo, tragado não só pelo conteúdo da delação de Machado, mas pela certeza de que vêm mais acusações por aí. Entre um e outro, caiu também o ministro da Transparência, Fabiano Silveira, também citado por Machado como um dos que tentaram esvaziar a Operação Lava-Jato.
Leia mais:
Ao deixar cargo após ser citado em delação, Alves agradece lealdade de Temer
Machado reafirma que Temer solicitou doação
Dilma: governo Temer está desmontando conquistas
Temer brincou com fogo e queimou as mãos. Escolheu Jucá para o Planejamento, que deveria ser um dos ministérios mais importantes no organograma do governo interino. Não foi imposição de uma ala do PMDB, muito menos dos partidos aliados. Foi escolha pessoal mesmo, tanto quanto Henrique Alves, que chegou a ser sondado para o Desenvolvimento, Indústria e Comércio, mas escolheu continuar no Turismo, onde esteve até poucos dias antes de a presidente Dilma Rousseff cair.
A pergunta hoje é: quem será o próximo? Em tese, o candidato mais forte a cair é Geddel Vieira Lima, secretário de Governo, também citado por delatores da Lava-Jato. Mas Sarney Filho (Meio Ambiente) também aparece na delação de Machado como beneficiário de propina. Todos os que receberam doações de campanha de empreiteiras estão na berlinda, já que, segundo os depoimentos, contribuições declaradas como legais tinham origem na propina e os caciques dos partidos sabiam disso. Pelo histórico das doações de empreiteiras para as campanhas eleitorais, as delações de Marcelo Odebrecht e de Leo Pinheiro (OAS) têm potencial para provocar estragos ainda maiores do que os causados por Delcídio Amaral, Nestor Cerveró e Sérgio Machado.
Aliados de Temer tentam usar as demissões a favor dele, mostrando a diferença com Dilma, que manteve no governo ministros acusados de corrupção. No primeiro mandato, Dilma bateu recordes de popularidade por conta da chamada faxina ética. Naquele tempo, bastava uma suspeita levantada pela imprensa para afastar um auxiliar. Foi uma das razões dos atritos com a base aliada. No segundo mandato, Dilma tornou-se leniente com os acusados e acabou perdendo apoio na sociedade. Temer vive o seu momento “vassoura nova”. Nesse ritmo, baterá o recorde da presidente afastada em matéria de demissão de ministros. Em 35 dias, perdeu três – um a cada 11,6 dias.