Com 73 páginas, o voto do ministro Teori Zavascki defendendo a suspensão do mandato de Eduardo Cunha não foi escrito da noite para o dia. Estava pronto desde fevereiro, mas Teori não quis levar a plenário antes. Só decidiu fazê-lo na noite de quarta-feira, depois de o presidente Ricardo Lewandowski ter acatado o pedido do ministro Marco Aurélio Mello para submeter ao plenário a ação da Rede Sustentabilidade que pedia o afastamento de Cunha para tirá-lo da linha sucessória na Presidência da República.
A pergunta que o próprio Cunha fez depois da decisão unânime dos ministros é a mesma de boa parte dos brasileiros: por que Teori demorou quase seis meses para responder ao pedido de afastamento feito pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, na metade de dezembro? Foi Janot quem definiu o então presidente da Câmara como um delinquente contumaz. Aliados da presidente Dilma Rousseff usaram a decisão para defender a anulação do processo de impeachment por ter sido conduzido por Cunha.
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A pessoas próximas, Teori demonstrou irritação com a decisão de Marco Aurélio e Lewandowski de julgar a ação da Rede. Mas deu a entender que não se trata de uma disputa de beleza pelo título de ministro que livrou o Brasil da delinquência de Eduardo Cunha. Alguma coisa mais grave aconteceu, mas Teori não quer falar. O ministro evita entrevistas e só costuma falar nos autos.
Em seu voto, fez um adendo ao que havia escrito em fevereiro, para atualizá-lo com a possibilidade de Eduardo Cunha substituir Michel Temer em seus impedimentos na Presidência da República a partir do afastamento da presidente Dilma Rousseff, previsto para a próxima semana.
Até a semana passada, dizia-se que Teori estava segurando seu voto porque não tinha maioria no plenário para afastar Cunha e não queria dar ao deputado uma espécie de salvo-conduto. No julgamento da cautelar, todos os ministros acabaram acompanhando seu voto, apesar das ressalvas de que a suspensão do mandato é uma construção jurídica, possível porque a Constituição contém lacunas.
Entre os juristas, a decisão do Supremo causou surpresa e foi alvo de críticas. Não por Cunha, mas pelo precedente e pela interferência de um poder em outro.
De fato, a Constituição não dá poder explícito ao Supremo para cassar mandato de deputado. Essa tarefa é dos próprios colegas, mas Cunha vinha manobrando a Comissão de Ética para retardar o julgamento. Agora sem força, os deputados deverão apressar a cassação, até para poder substituí-lo na presidência. O vice, Waldir Maranhão, assume em seu lugar, mas não tem estatura para continuar no cargo em caráter definitivo.