Nunca se viu em uma visita presidencial ao Rio Grande do Sul tanto espaço vazio no palco das autoridades como nesta segunda-feira em Caxias do Sul, na entrega de apartamentos do programa Minha Casa Minha Vida. Apenas o ministro Miguel Rossetto e os deputados federais Pepe Vargas e Henrique Fontana, e o estadual Tarcísio Zimmermann, do PT, acompanharam a presidente. Em outros tempos, parlamentares se acotovelavam para sair na foto e inundavam as redes sociais com selfies. Com a perda de popularidade, sumiram os papagaios-de-pirata, mesmo sendo a segunda-feira um dia morto na Assembleia e na Câmara dos Deputados.
O prefeito Alceu Barbosa Velho (PDT) e a primeira-dama Alexandra Baldisserotto fizeram as honras da casa. O prefeito falou sobre os investimentos federais e destacou que o loteamento Campos da Serra tem uma escola de tempo integral, com o nome de Leonel Brizola. Todas as escolas infantis de Caxias são de turno integral.
Leia mais:
"Não tem sentido conduzir Lula sob vara", diz Dilma em Caxias do Sul
Dilma faz reunião para tratar de protestos marcados para domingo
Líder do DEM rebate Dilma: "Quem divide o país é ela"
O governador José Ivo Sartori mandou o secretário de Obras, Gerson Burmann, representá-lo. Avisou a presidente de que já tinha outro compromisso no mesmo horário, a abertura da Expodireto em Não-Me-Toque.
A ausência dos ministros se explica pelo formato do evento. Na mesma hora, Tereza Campello estava entregando casas em Jundiaí (SP), Gilberto Kassab em Três Lagoas (MS), Patrus Ananias em Paracatu (MG) e André Figueiredo em Sobral (CE). O sumiço dos líderes estaduais do PT só se explica pelo desgaste da presidente.
Diante de uma plateia composta por famílias beneficiadas pelas 320 moradias entregues nesta segunda-feira e militantes do PT preparados para repetir o grito de guerra "não vai ter golpe", Dilma aproveitou o discurso para condenar a forma como o ex-presidente Lula foi levado para depor na sexta-feira. Expressou sua indignação pelo fato de Lula ter sido alvo de um mandado de condução coercitiva, já que depôs voluntariamente em outras oportunidades.
A presidente dividiu o discurso de meia hora em três pontos: a exaltação do programa Minha Casa Minha Vida, motivo da visita, a crise política, com foco na investigação de Lula, e o combate ao mosquito transmissor da dengue, do zika vírus e da febre chikungunya. Nos 30 minutos, foi interrompida oito vezes por aplausos.
A crise ocupou oito minutos do discurso. Eram 10h32min quando Dilma trocou o tema da habitação pelo da crise. Disse que o Brasil passa por momentos difíceis e que parte dessa crise é provocada pela oposição, que não se conforma com a derrota na eleição de 2014.
– Quem perdeu quer antecipar a eleição de 2018 – disse.
Dilma foi interrompida por palmas e um coro de vozes que repetia "não vai ter golpe", entoado por militantes. Os moradores do residencial Campos da Serra aplaudiam calados, dando sinais de que não haviam ensaiado o refrão.
Aliás
Os aplausos em Caxias do Sul não são termômetro de popularidade. O cenário foi cuidadosamente preparado para reunir apenas apoiadores da presidente. A preocupação em relação à plateia explica a ausência de Dilma na Festa da Uva, que terminou domingo.