Os documentos divulgados no fim de semana pelo Instituto Lula provam que:
1. O ex-presidente não é dono do apartamento 164 A, um triplex de 215 metros quadrados de área privativa, no edifício Solaris, no Guarujá, em São Paulo.
2. A mulher de Lula comprou em 2005 uma cota-parte de um projeto habitacional da Bancoop e fez pagamentos mensais que totalizam R$ 286 mil em valores atualizados, o que lhe daria direito à opção de compra de uma unidade de 82 metros quadrados, o apartamento 141.
3. O investimento foi declarado à Receita Federal e ao Tribunal Superior Eleitoral.
4. Em novembro de 2015, Marisa assinou termo pedindo o resgate da cota, a ser pago, segundo nota do Instituto Lula, “em 36 parcelas, com um desconto de 10% do valor apurado, nas mesmas condições de todos os associados que não aderiram ao contrato com a OAS em 2009”.
Tudo isso já se sabia. O que Lula fez foi apresentar os documentos e acrescentar dados novos à sua defesa. Esses fatos são mais reveladores do que a papelada, principalmente pelas datas em que ocorreram e porque confirmam depoimentos do responsável pela reforma, do zelador e da porteira do prédio, que até então os defensores de Lula chamavam de “ilações da mídia”. O que diz a nota:
1. Lula confirma que esteve no apartamento 164 A, “em uma única ocasião”, em 2014, com Marisa e com o presidente da OAS, Léo Pinheiro. A nota diz que “Lula e Marisa avaliaram que o imóvel não se adequava às necessidades e características da família, nas condições em que se encontrava”.
2. Marisa voltou ao apartamento, quando estava em obras, acompanhada do filho Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha. A família estava avaliando a compra do imóvel, mas não fechou negócio.
3. A família desistiu da compra “mesmo tendo sido realizadas reformas e modificações no imóvel (que naturalmente seriam incorporadas ao valor final da compra)” por causa de “notícias infundadas, boatos e ilações que romperam a privacidade necessária ao uso familiar do apartamento”.
A visita de Lula se deu quando já era ex-presidente. Em vez de um corretor ou do engenheiro responsável pela reforma, quem acompanhou a família foi ninguém menos do que o presidente da OAS, Léo Pinheiro. Não há crime nisso, mas é curioso que o presidente de uma das maiores empreiteiras do país se desloque até o litoral paulista para mostrar um apartamento de 215 metros quadrados a um comprador potencial, mesmo sendo esse cliente um ex-presidente da República.
Como Marisa não exerceu a opção de compra em tempo hábil, o apartamento 141, foi vendido para outra pessoa. A OAS, então, ofereceu o 164 A, melhor e maior, que ainda estava disponível para venda. Não está claro quem encomendou a reforma – os investigadores dizem que foi orientada por Marisa.
A desistência ocorreu no auge da Operação Lava-Jato e depois da divulgação de suspeitas sobre o imóvel, pelo jornal O Globo, em agosto de 2015, e pela revista Veja, em outubro. Léo Pinheiro havia sido preso um ano antes.