Nunca antes na história deste país, como diria o ex-presidente Lula, o Natal pegou tantos políticos sem motivo para brindar. Lula, inclusive. Ele sabe que ele e os filhos estão na mira da Polícia Federal e do Ministério Público Federal. O senador Delcídio do Amaral (PT-MS) não tem o que celebrar porque passará os feriados na cadeia. O presidente da Câmara, Eduardo Cunha, porque está cercado e corre sério risco de perder o cargo e até o mandato em 2016. No documento em que pediu seu afastamento, o procurador Rodrigo Janot chamou Cunha de delinquente duas vezes.
A presidente Dilma Rousseff, que passará o Natal em Porto Alegre, tem apenas razões familiares para fazer tim-tim: seu segundo neto, que deverá se chamar Guilherme, nascerá no final de dezembro ou início de janeiro. Como a filha não pode viajar de avião, dada a proximidade do parto, a presidente tentará deixar de lado os problemas do governo para passar o Natal com Paula, o neto Gabriel e o ex-marido Carlos Araújo, amigo e conselheiro.
Se o Natal da presidente será naturalmente tenso, por conta da ameaça de impeachment e dos indicadores negativos do governo, o de seus algozes não será de grandes festas. A recente decisão do Supremo Tribunal Federal em relação ao rito do processo jogou água fria no entusiasmo dos que já estavam fardados para assumir funções estratégicas em um futuro governo Michel Temer.
O racha no PMDB, com seus líderes jogando lama no ventilador, fermentou a desconfiança em relação ao day after de um afastamento da presidente. Temer virou alvo do presidente do Senado, Renan Calheiros, outro que terá o Natal azedado pela decisão do STF, que autorizou a quebra do seu sigilo bancário e fiscal.
Além de desqualificar Temer e de dizer que ele é, em boa parte, responsável pela crise, porque só pensou em cargos, Renan passou a sustentar a tese de que, se Dilma está ameaçada de perder o cargo pelas pedaladas fiscais, o vice deve responder pela mesma infração, já que assinou decretos abrindo crédito suplementar sem autorização legislativa, em 2014 e 2015.
Temer tem outro motivo para desconfiar que Papai Noel não será tão generoso como imaginava há duas semanas. No fim de semana, a Folha de S.Paulo informou que, em uma mensagem armazenada no celular do dono da OAS, Leo Pinheiro, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, reclama que a empreiteira repassou, de uma só vez, R$ 5 milhões para Temer e “deixou inadvertidamente adiado” o repasse para a “turma”. Temer disse que a empreiteira doou R$ 5,2 milhões ao PMDB, em cinco parcelas, e que tudo está devidamente registrado.