Os opositores da presidente Dilma Rousseff comemoraram cedo demais o parecer do ministro Luiz Edson Fachin, contrário às teses do Planalto em relação ao impeachment. Parecia impossível uma virada de jogo, mas a maioria dos ministros entendeu que, sim, o Senado tem a última palavra sobre o afastamento temporário da presidente, caso a Câmara aprove a abertura do processo de impeachment. Os ministros também implodiram a manobra do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e dos aliados do vice, Michel Temer, de apresentarem uma chapa avulsa para a indicação dos membros do PMDB na comissão do impeachment.
As vitórias de Dilma no Supremo foram derrotas de Temer, que já está fardado para sentar na principal cadeira do Palácio do Planalto. As decisões do Supremo não significam vacina contra o impeachment, mas formam uma espécie de barreira de proteção às manobras de Cunha e de seus seguidores.
O futuro de Dilma, vale repetir, está atrelado ao desempenho da economia e à recuperação mínima da popularidade. Se nos próximos dois meses, quando o impeachment ficará em banho-maria com o recesso parlamentar, a presidente não conseguir virar a página da agenda negativa, será muito difícil conter a insatisfação das ruas, mas é inegável que, hoje, a aprovação do impeachment ficou mais difícil do que há dois dias.
Tão curioso quanto o resultado, foram os votos de cada ministro. Os mais alinhados com o PT votaram contra Dilma. Os considerados “adversários” deram os votos decisivos para a vitória do governo, aumentando a legitimidade da decisão. Os rótulos que o maniqueísmo de petistas e antipetistas gruda nos ministros do Supremo ficaram obsoletos.
A par das vitórias no campo jurídico, a presidente tem a comemorar a derrota política do PMDB, que trabalha para derrubá-la. Foi uma derrota do vice-presidente Michel Temer, que abraçou as teses de Eduardo Cunha e, em nenhum momento, defendeu a presidente ou apontou fragilidades jurídicas nos movimentos do presidente da Câmara.
A briga entre o vice-presidente da República e o presidente do Senado, Renan Calheiros, expôs as entranhas da disputa de poder no PMDB. Em público, Renan classificou a carta de Temer para Dilma como um desabafo. Nos bastidores, definiu a mensagem como "infantil e primária". Depois, zombou do vice-presidente, chamando-o de "mordomo de filme de terror".
A guerra aberta no PMDB deixa no ar uma pergunta: se estão brigando desse jeito, como se comportarão se Dilma cair e Temer assumir o comando do país? O vice tenta passar uma imagem de sobriedade, mas seu partido não ajuda. o 2510cc 26cm