Em entrevista direto da COP 29, em Baku, no Azerbaijão, Marcello Brito, secretário executivo do Consórcio Amazônia Legal, discute o que esperar da COP30, em Belém. Leia os principais trechos.
Na COP de Belém, como apresentar algo que tenha a cara do Brasil, mas, ao mesmo tempo, condições de receber todo o mundo em termos de infraestrutura?
A pessoa que vem para a COP de Baku sabe que não está indo para Dubai. Quem vai para a COP de Belém, sabe que não está indo para Londres. Está indo sabendo que terá uma infraestrutura diferente, amazônica, que mostra o histórico natural do Brasil. Será uma COP, provavelmente, menor, em termos de número de pessoas, mas tem a possibilidade de ser a melhor COP em agenda. Participo de COP desde 2006, não vejo as pessoas discutindo se a infratestrutura era boa ou ruim, mas ase tal COP foi um fracasso ou um sucesso.
Vocês estão preocupados com a infraestrutura?
Vai acontecer, de forma ou de outra, as pessoas vão contar que ficaram bem ou mal hospedadas, mas o importante é que enxerguem: "Estamos fazendo a transformação da estrutura verde no mundo, segundo a agenda de Belém". Temos de migrar do debate simplista da infraestrutura, que é necessária, e tem gente competente cuidando disso, para focar na agenda que insere o Brasil no mundo.
O que precisa ser feito aqui, na COP29, para que Belém seja um sucesso?
A discussão aqui é a mais difícil de todas: de finanças. Não se faz transição sem investimento. A conta é alta, porque passamos o período de mitigação: quando se falava nisso, falávamos na escala de US$ 100 bi por ano. Entramos no período de adaptação. Ou seja, o RS precisa ser adaptado às novas condições, o oeste da Amazônia precisa ser adaptado porque há regiões que estão em emergência climática há três anos. O custo da adaptação é da casa dos trilhões por ano.
O senhor falou do RS, que sofre períodos de estiagem e enchente. O tema da mudança climática chegou à população?
Isso mostra a nossa fraqueza de só fazer transformação no caos. A ideia de "não acredito nisso porque só acontece com os outros" passou. Agora, está acontecendo com a gente. Aí vem o sentimento da impotência. A gente falava da necessidade de estrutura de seguros por conta de prevenção climática, e ninguém levava em consideração, tanto que o RS tinha 6% de toda tragédia assegurada. Olha que desastre: com prejuízo de R$ 100 bilhões, se tinha R$ 6 bilhões segurados. Esse tipo de discussão mostra nossa incompetência. Cabe reflexão enquanto cidadão: "Eu acreditava naquele político, prefeito, governador, deputado, senador, segundo o qual nada disso existia, era coisa de europeu, ambientalista?". O que ocorre agora já estava previsto nos relatórios do IPCC há 20 anos. Mas não quisemos acreditar. E agora, temos de fazer. O cara acha que é conversa de esquerdista, então vamos chamar de "transição econômica". Os americanos chamaram de "inflation reduction act", o maior pacote de tranformação verde da economia americana, mais de US$ 200 bilhões em subsídios, chama-se um "ato de redução de inflação". É o maior pacote de investimento em energia eólica, solar, metano, transformação de agricultura regenerativa, restauração florestal. É um pacote ecológico purinho, dentro dos EUA, mas chamam de "inflation reduction act". É uma questão de metalinguagem, e às vezes é isso que o necessário para suplantar mentes mais difíceis de serem convencidas.