Neste domingo, 21 de julho de 2024, chega ao fim, de forma honrosa, a longa carreira de cinco décadas de um político americano que alcançou a cadeira de 47º presidente dos Estados Unidos da América.
Joe Biden foi um grande senador, especialista em política externa, parceiro, por dois mandatos, de Barack Obama, na vice-presidência, e o homem que trouxe de volta o país à política normal, depois dos atropelados quatro anos de Donald Trump na Casa Branca. Ele restabeleceu a democracia na maior economia e maior potência militar do planeta e reergueu a nação após a tragédia da pandemia.
Sai de cena diante da deterioração do corpo e da mente. A carta, divulgada neste domingo (21) em redes sociais, em que Biden deixa a campanha eleitoral põe fim a quase quatro semanas de agonia.
Não foi em 27 de junho que Biden demonstrou fragilidades cognitivas - vem de bem antes. Mas aquela data marcou, em rede nacional, o ponto de inflexão, quando a deterioração cognitiva se mostrou, em praça pública, perante os olhos do planeta: o presidente não conseguiu completar frases, teve dificuldades para concluir raciocínios e mantinha, em alguns instantes, o olhar distante.
A capa da Economist, bíblia dos liberais, foi de puro mau gosto nos dias seguintes: estampou um andador, sem ninguém atrás, com a insígnia presidencial. Dura, inconveniente. Nos das seguintes, Biden trocou o nome do presidente da Ucrânia, Volodimir Zelensky, pelo rival Vladimir Putin, e da vice, Kamala Harris, pelo de... Donald Trump.
Nos últimos dias, fez um discurso forte na cúpula da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), mas já era tarde. Em uma eleição dependente de investidores, em que cada palavra é escrutinada pela opinião pública a julgar a direção dos Estados Unidos e do mundo, o peso dos 81 anos se fez presente.
As pesquisas até que foram condescendentes: depois do debate do dia 27, Trump levava vantagem de três pontos sobre Biden, mas dentro da margem de erro.
Nos últimos três dias, foi construindo sua retirada - primeiro: não negou quando Kamala Harris começou a ser apontada como provável substituta. Depois, disse que admitiria sair por problemas de saúde. Na quinta-feira à noite (18), foi diagnosticado com covid-19. O próprio Obama trabalhou nos bastidores.
Não é comum um presidente dos EUA não buscar a reeleição - e poucos dos que a buscaram não se reelegeram. Trump é exceção.
Pela história, pela sabedoria, pelo que fez pelos Estados Unidos como humano e político, Biden merece o respeito de saber, em uma decisão íntima e dolorosa, certamente, tomada no âmago de sua família em Delaware, a hora de sair de cena.