O primeiro debate da corrida eleitoral americana de 2024 eletrizou a campanha. Não exatamente pela qualidade dos debatedores, mas principalmente pela debilidade dos dois - do ponto de vista físico e moral. Nem Joe Biden nem Donald Trump têm condições de comandar a mais tradicional democracia do planeta e maior potência militar do mundo, os Estados Unidos da América.
Biden foi mais do que sonolento - uma acusação que Trump costuma fazer ao adversário. O democrata foi vacilante e confuso, exibindo fragilidades que nem os mais fervorosos inimigos do atual presidente imaginavam. Ele abriu o flanco para Trump em diversas ocasiões. O republicano foi firme, assertivo, mas distorceu fatos de forma descarada.
O formato do debate, no qual os mediadores não contestavam as afirmações dos candidatos abriu caminho para Trump repetir seu tradicional roteiro de "fake news". As emissoras americanas parecem ter aprendido a lição do primeiro debate entre os dois, na campanha anterior, quando o microfone aberto o tempo inteiro permitiu que os dois se interrompessem a todo momento, inviabilizando o diálogo.
Dessa vez, os microfones ficaram fechados cada vez que o adversário falava. Isso poupou os espectadores de mais vergonhas. Mas não ajudou muito, porque temas importantes, como a inflação, a migração, a política externa, o aborto, foram substituídos por acusações mútuas - de baixo calão ou que beiram a infantilidade, como o momento em que Biden e Trump ficaram discutindo quem seria melhor no golfe, ou o cômico, quando o republicano "jurou", literalmente, não ter feito sexo com uma atriz pornô - ele foi condenado criminalmente por um tribunal de Nova York recentemente por ter subornado Stormy Daniels em troca de seu silêncio, escândalo que poderia prejudicá-lo em 2016.
Em um dos momentos mais duros do duelo, Trump disse que Biden tinha “sangue nas mãos” por “afrouxar as fronteiras” e deixar “terroristas, inclusive da América do Sul” entrar no país e matar cidadãos americanos. O atual presidente, com voz rouca (a Casa Branca informou durante o debate que ele estaria resfriado), disse que aumentou a segurança nas fronteiras.
Na defensiva o tempo inteiro, Biden não conseguiu convencer a ponto de, mais para a metade do debate, seus correligionários começarem a trocar mensagens internas provocando a ideia de possível mudança de nome para a disputa até a convenção. Talvez não haja tempo suficiente. Talvez não seja nem possível dizer que ele não pode concorrer.
O fato é que, independentemente da decisão, Joe Biden perdeu a eleição nesta quinta-feira, 27 de junho. E os democratas deixarão a Casa Branca em janeiro.