O jornalista Vitor Netto colabora com o colunista Rodrigo Lopes, titular deste espaço.
Há pouco mais de 20 anos, uma região que fica a aproximadamente 300 quilômetros de Porto Alegre sofreu um fenômeno meteorológico inédito na região. Foi o primeiro furacão a atingir a costa do Atlântico Sul, afetando parte do litoral Sul de Santa Catarina e com reflexos no litoral Norte gaúcho.
Batizado de "Catarina", o furacão durou 8 horas entre a noite do dia 27 até a madrugada de 28 de março de 2004. Com uma escala bem menor do que os impactos registrados na enchente de maio de 2024 no Rio Grande do Sul, os ventos ultrapassaram 180 quilômetros por hora no estado vizinho e deixaram um rastro de destruição e 11 mortes. Os prejuízos materiais passaram dos R$ 200 milhões.
A chegada do fenômeno meteorológico foi acompanhado pelo Centro de Informações de Recursos Ambientais e de Hidrometeorologia de Santa Catarina (Ciram) da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri). Como o caso era inédito, não se tinha muitas informações de como ele chegaria em território catarinense, mas os alertas ao Estado começaram a ser emitidos quatro dias antes da chegada. O que possibilitou definir que o fenômeno era um furacão foram as imagens via satélite.
— Olhando de cima, com a imagem em via satélite, você consegue visualizar bem que era um furacão. Quando você está embaixo do sistema, ele aparenta ser uma tempestade muito grande e pesada — explica o meteorologista da Epagri/Ciram Clovis Levien, que coordenava o setor da entidade na época.
Com a confirmação da chegada do evento, uma reunião foi realizada com diversas instituições para discutir de como seria caso o furacão chegasse ao litoral sul de Santa Catarina.
— Então quando chegou de sexta-feira para o sábado, começamos a afinar mais com a Defesa Civil, falando justamente sobre onde é que vamos tirar a população, principalmente regiões próximas do mar — complementa o meteorologista.
Durante todo o evento, a Defesa Civil de Santa Catarina e membros do governo do Estado acompanharam o fenômeno. No dia seguinte, com casas destelhadas, árvores e postes caídas, iniciou um trabalho de entrega de lonas e montagem de centros de acolhimentos. Dados apontam que 21 municípios catarinenses foram afetados e no Rio Grande do Sul, as cidades mais atingidas foram Torres, Dom Pedro de Alcântara, Arroio do Sal e Três Cachoeiras.
Mudanças após o evento
O evento proporcionou mudanças significativas no Estado, principalmente avanços estruturais. O então vice-governador na época, Eduardo Pinho Moreira, que sobrevoo a região após o evento, afirma que Catarina fez com que os próximos governadores priorizassem mais atenção a meteorologia de SC.
— Foi é um avanço importantíssimo. Todos os governadores a partir do Catarina foram valorizando a Defesa Civil e estruturando cada vez mais. E esse ritmo cresceu muito, culminando com a a criação da secretaria da Defesa Civil e a sua estruturação extremamente tecnológica, moderna e de pessoal também — conta.
O atual secretário de Estado da Proteção e Defesa Civil de Santa Catarina, Fabiano de Souza, também acredita que uma das grandes mudanças que trouxeram para SC foi a mudança de um órgão para secretaria.
— Tanto o Catarina como em 2008 (enchente no Vale do Itajaí) mostraram a necessidade de uma estruturação do sistema de alerta, com radares e estações hidrometeorológicas e profissionais acompanhando 24 horas por dia os eventos do Estado — conta.
Atualmente Santa Catarina conta com 42 estações hidrometeorológicas da Defesa Civil. São também 591 sensores de superfície, que analisam a temperatura, pressão, nível dos rios e índices pluviométricos, sendo alguns dentro dessas estações. Só da Epagri/Ciram, são 280 sensores. Também conta com quatro radares meteorológicos e uma antena de imagem de satélite.
Dentro da Defesa Civil há o Centro Integrado de Gerenciamento de Riscos e Desastres (Cigerd), que conta com engenheiros, meteorologistas, geólogos e outros profissionais. Lá conta também com o Centro de Integrado de Operações (CIOP), que reúne representantes de diversos representantes de secretariais que analisam onde atuar em casos de emergencias. O Cigerd também conta com 20 regiões, espalhadas pelo Estado.
— Temos modelos de reuniões, então podemos antecipar em como vamos responder aos fenômenos, preparar os municípios. E isso não apenas da parte estrutural, mas diversas secretariais como a de saúde, de educação, de várias pontas em como que cada uma vamos trabalhar — detalha Souza.