Quatro bispos e 53 padres gaúchos participam do coletivo Padres da Caminhada, que fez um duro manifesto contra o projeto de lei antiaborto por estupro, de autoria do deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), que equipara interrupção da gravidez acima de 22 semanas ao crime de homicídio, inclusive para mulheres que foram estupradas.
No documento, os religiosos afirmam que "em consonância com os sentimentos da maioria do povo brasileiro, especialmente das nossas irmãs mulheres, reprovamos, repugnamos e nos opomos veementemente ao projeto de lei 1904/2024 que ora tramita no Congresso Nacional e que ficou popularmente conhecido como PL dos Estupradores".
Em todo o Brasil, o grupo é composto por 460 religiosos. Na manifestação, ele explicam.
- Obviamente, não somos a favor do aborto. Somos sim contra a substituição de políticas públicas por leis punitivas às vítimas de estupro e abuso, imputando-lhes um crime seguido de pena maior do que o dos estupradores."
Bastidores
Uma fonte influente no grupo afirma que a questão do aborto é tabu dentro da Igreja no Brasil e que é muito difícil falar sobre o tema dentro da instituição.
- Pisamos em ovos - diz.
O religioso gaúcho considera o PL um "absurdo"
A carta foi fruto de um processo longo de construção dentro do grupo. Todos tiveram oportunidade de se manifestar para observações e sugestões. A fonte revela que um trecho da carta foi retirado para não criar uma impressão de que o coletivo estaria dividindo a Igreja. Na parte excluída, fazia-se uma crítica mais contumaz à atitude da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que, em nota, considerou "importante a aprovação do PL 1904/2024".
Na opinião do religioso integrante do grupo Padres da Caminhada, a nota a favor foi feita sob pressão de uma ala conservadora na Igreja - e porque o atual secretário-geral da entidade, dom Ricardo Hoepers, bispo auxiliar de Brasília (DF), assume como bandeira a questão do aborto.
Leia aqui outras colunas de Rodrigo Lopes.