Uma das ideias que o governo do Estado discutirá com o grupo de pesquisadores holandeses que está no Rio Grande do Sul para propor soluções para lidar com as enchentes chama-se "Room for the River" ("Espaço para o Rio"), projeto implementado no país europeu para lidar com as cheias do delta do Reno.
Quando se pensa em Holanda, cujo território está em grande de parte abaixo do nível do mar, logo nos lembramos de gigantescos e eficientes diques. Mas, de uns anos para cá, a nação tem buscado abordagens mais novas e sustentáveis.
A Holanda enfrentou inundações históricas na região onde o Reno desemboca no Mar do Norte nos anos de 1993 e 1995, que provocaram a evacuação de 200 mil pessoas. Os desafios lá, grosso modo, são bem parecidos com a situação do Guaíba. O Reno nasce na Suíça, banha outros cinco países, desaguando no Mar do Norte, no território da Holanda, onde forma também um delta. No caso europeu tratam-se de quatro rios, além do Reno, o Mosa, o Waal e o IJssel.
A chave do projeto, que começou a ser pensado em 2007, é abrir espaços naturais para as águas, ou seja, retirar populações ribeirinhas e estruturas próximas aos rios para que, ao transbordar, eles ocupes áreas livres de estruturas ou residências - uma espécie de amortecimento ou uma área de inundação "controlada", sem risco para a população.
Todo o projeto conta com cerca de 30 iniciativas, como a realocação de diques para áreas mais longes dos rios, redução da altura dos quebra-mares, remoção de obstáculos (retirada da ponte em Oosterbeek), o aumento da profundidade de canais e construção de desvios de inundação - um rio artificial (chamado Canal Verde, em torno de Veessen-Wapenveld), por exemplo, foi construído para desviar parte da água, quando o delta sobe.
O objetivo era fazer com que, em 2015, os braços do Reno pudessem suportar uma capacidade de descarga de 16 mil metros cúbicos de água por segundo sem inundações. As medidas implementadas para aumentar a segurança melhoraram a qualidade ambiental geral da região fluvial.
Um total de 19 parceiros - as províncias, municípios, autoridades regionais de água e Rijkswaterstaat cooperaram na implementação do programa "Room for the River", que foi encabeçado pelo Ministério das Infraestruturas e Gestão da Água. O orçamento para todo o projeto é de cerca de 2,3 bilhões de euros.
O "Room for the River" sofreu resistências iniciais. Tradicionalmente, os holandeses apoiam às medidas de proteção contra inundações. Mas, para que houvesse reforço de diques, foi necessária a demolição de casas. Da mesma forma, a ideia de comprar terras agrícolas e transformá-las em áreas de inundação também encontrou oposições. Durante séculos, gerações de agricultores trabalharam para transformar áreas naturais em terras agrícolas. Essa mudança no uso da terra, de terras agrícolas para planícies inundadas, exigiu uma alteração de mentalidade.
Nenhum sistema como esse funciona sem manutenção. Segundo o governo holandês, os diques, por exemplo, têm de ser submetidos a verificações todos os anos. Em razão das mudanças climáticas, o reforço das estruturas, previsto para ser feito entre três décadas, precisa ser realizado a cada 14 anos.