Uma rápida passada de olhos pelos perfis de alguns políticos gaúchos em redes sociais permite concluir que (1) a disputa municipal em Porto Alegre já começou; (2) a baixaria também; e (3) todo e qualquer tema a ser discutido está, a priori, contaminado pela eleição de outubro.
Isso vale para as irregularidades na Secretaria Municipal da Educação (Smed) e passa pelo desempenho da prefeitura em meio à crise da falta de luz após o último temporal.
Na segunda-feira (5), na primeira sessão do ano na Câmara Municipal desde a posse da nova Mesa Diretora, o vereador Jonas Reis (PT) usou a tribuna para conectar as duas CPIs sobre as supostas fraudes na Smed à imagem do prefeito Sebastião Melo. Foi, na verdade, um contra-ataque. Desde quinta-feira (31), o líder da bancada do PT é alvo de uma queixa-crime protocolada por Melo.
O prefeito entende que o vereador da oposição cometeu três crimes de calúnia e oito de injúria em posts no Instagram, de 19 a 29 de janeiro. A peça considera que Reis tinha o objetivo de "atacar a honra do prefeito, ultrapassando – e muito – o nível de crítica política, focando-se unicamente em aspectos pessoais.” Na queixa-crime, seus advogados citam termos utilizados por Jonas como “preguiçoso maior”, “ridículo, lamentável e indigno”, “cara de pau” e “sonso e desentendido”.
Em troca de mensagens com a coluna na manhã desta quarta-feira (7), o vereador do PT encaminhou uma nota dizendo-se vítima de tentativa de censura por parte do prefeito. Questionado se apagaria as postagens consideradas ofensivas por Melo, ele afirmou: "Estamos na democracia. Ditadura nunca mais".
A seguir, a íntegra da nota:
"O governo Melo produz um factóide para fugir das suas responsabilidades em um cenário de ausência de serviços decentes para o povo. Ao invés de buscar recolher o lixo da cidade, de resolver as avenidas que viram rios nas chuvas, de levar água para o povo sofrido e de oferecer escola pra 11 mil crianças que não têm, ele busca calar a voz de quem representa o povo. Insiste em uma postura lamentável.
O intuito do chefe do governo Melo é tentar nos calar como voz do povo na cidade, principalmente em um momento em que 4 pessoas investigadas por compras na SMED de seu governo foram para a cadeia, e outras tantas afastadas de seus cargos pela justiça, incluindo o presidente de seu partido MDB. Além do mais, essas investigações começaram depois de inúmeras denúncias que foram oferecidas entre 2022 e 2023 à justiça gaúcha, especialmente por este mandato. O governo tem mágoas profundas comigo e com o que o mandato representa como oposição inabalável ao entreguismo da prefeitura ao setor privado, pois não nos calamos e cobramos políticas públicas para o povo trabalhador e sofrido da capital. E perguntamos: crime mesmo não seriam 11 mil crianças sem vagas em creches? Deixar a população mais de uma semana sem água não seria um crime? Ficar em média 2 anos na fila do SUS da capital para a consulta com um especialista não seria crime? Votar pela privatização da CEEE enquanto deputado e depois como prefeito se desresponsabilizar enquanto milhares de cidadãos ficam sem luz por mais de uma semana é crime?
O governo municipal não pode pretender "ficar no anonimato" - ou seja, é do governo Melo que estamos falando, e das suas ações e omissões que tanto sucatearam os serviços públicos municipais quanto autorizaram compras fraudulentas na secretaria da educação, por exemplo.
O verdadeiro crime é contra a cidade - é, por exemplo, o Demhab não elaborar um projeto novo e significativo, de Habitação de Interesse Social, já por 7 anos. É terceirizar as redes de serviços essenciais como saúde e educação, abandonando o povo à prioridade privada de lucro.
O verdadeiro crime - contra a cidade - é o esvaziamento completo das competências dos conselhos municipais, diminuindo enormemente a transparência com que os licenciamentos são analisados, por exemplo.
Crime do governo contra a cidade é o arrocho salarial sobre os servidores que só afugenta o corpo técnico da prefeitura, facilitando que empresas terceirizadas os substituam - de forma muito frágil e aquém da qualidade que o povo merece.
O que o prefeito faz hoje tem muito a ver com as alianças com o bolsonarismo que ele fez e que foram amplamente derrotadas na última eleição na cidade, no RS e no Brasil. Ele tem medo da democracia e não aceita críticas ao seu governo fracassado.
O mandato Vereador Jonas Reis jamais se calará frente aos poderosos. Seguiremos firmes denunciando todos os ataques desse governo elitista e privatista ao povo trabalhador da capital."