Em Dubai, onde participa da COP28, o presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), Raul Jungmann, afirmou estar muito preocupado com a situação em Maceió (AL), onde o solo corre o risco de colapsar na área de uma mina da Braskem. O ex-ministro da Defesa e da Segurança Pública do governo Michel Temer conversou com a coluna após um painel da Confederação Nacional da Indústria (CNI), que ocorre nesta quarta-feira (6) no Hotel Atlantis Royal. Embora a empresa não seja filiada ao Ibram, Jungmann, que representa as principais companhias ligadas ao setor mineral, disse que colocou sua estrutura técnica à disposição "para que o pior não venha a acontecer". Questionado sobre o futuro da área sob risco, ele deu como sugestão transformar em um parque público, se houver condições de segurança. A seguir, os principais trechos da entrevista.
Como o senhor tem acompanhado a situação em Maceió?
Com muita preocupação. Embora a Braskem não seja uma mineradora, porque, na verdade, ela é um gigante da petroquímica, inclusive não é filiada a nós, é filiada à Abiquim (Associação Brasileira da Indústria Química), não importa. Nós colocamos todo o nosso ativo técnico e conhecimento científico à disposição deles. Mandei inclusive uma carta ao presidente da Braskem e comuniquei amplamente que estamos à disposição para ajudar para que algo pior não venha a acontecer. É a nossa preocupação. Estamos sempre muito preocupados, a partir, sobretudo, do que aconteceu em Mariana e Brumadinho, com a questão da segurança. Pelos dados que temos recebido da Agência Nacional de Mineração (ANM), estamos avançando bem.
O senhor afirmou tempos atrás que defendia fortalecimento da agência reguladora. Faltou fiscalização?
É fundamental. ANM forte, mineração forte. Precisa de regulação, fiscalização, de o poder público fazer cumprir as leis. Trabalhamos nesse sentido, mas queremos parceria também, porque é fundamental. Afinal, aquilo que a gente explora e comercializa, o mineral, é um bem da União, pelo povo brasileiro. Por isso, a regulação e fiscalização são bem-vindas. Estamos trabalhando duramente para ampliá-las. Como os indicadores da própria ANM demonstram, estamos avançando no sentido de segurança e processos. Por isso, a nossa preocupação com o que está acontecendo em Maceió e a nossa disposição em ajudar no que for possível.
Desde 2018 o solo tremia...
Isso é algo que precisa ser investigado e conhecido para saber o que deu errado, o que de fato houve. Esperamos que se chegue à responsabilidade no que diz respeito a tudo isso, porque quem não pode pagar é a população, é a cidade de Maceió.
O pode ser feito, depois, com uma área como essa?
Não colocaria habitações lá. Se possível for, se houver um assentamento, se não houver nenhum risco, transformaria, se me permite uma sugestão, em um amplo parque, em um parque público. Acho que essa seria a vocação de uma área como aquela, na medida que o risco seja zero. Colocar vidas humanas ali, não acho que seja o caso.
O setor de mineração tem alto impacto ambiental, como estão trabalhando para ser mais sustentável?
O setor ocupa 0,02% de todo o território nacional. Cada hectare suprimido, dependendo do bioma, você tem de regenerar, reflorestar, de oito a 12 hectares. Estamos fazendo todo o levantamento de nossa pegada de carbono, inclusive contratamos consultoria nesse sentido. Hoje, temos regulação em respeito à segurança de barragens, que melhorou muito. Quem assina hoje a responsabilidade pela barragem é o presidente da empresa. Ou seja, o responsável não é mais o diretor, o supervisor, não é mais ninguém. É ele. E isso só reforça nossa preocupação com aquilo que está acontecendo lá dentro. Essa é a preocupação número um do Ibram: a segurança das pessoas. Para que nós não voltemos, nunca mais, a conviver com tragédias como aquelas que vivenciamos (em Brumadinho e Mariana). É inaceitável. A gente não quer nunca mais passar por aquilo.