Não é porque o conflito entre Rússia e Ucrânia tenha, em parte, sumido do noticiário que ele tenha deixado de existir. A guerra no Leste Europeu, iniciada em 24 de fevereiro de 2022 com a invasão russa ao território ucraniano, tem sido ofuscada pelo embate entre Israel e Hamas, desde 7 de outubro, quando ocorreram os atentados terroristas no Oriente Médio.
Mas o outro conflito, entre Rússia e Ucrânia, segue matando gente.
A guerra, vale lembrar, começou com a invasão do território ucraniano pelas tropas russas. O presidente Vladimir Putin usou como argumento a suposta "proteção" dos povos russos na Ucrânia, especialmente aqueles que vivem nas províncias de Donetsk e Luhansk, no leste do país. Na verdade, deu início a uma guerra de ocupação, buscando terminar o serviço que havia começado em 2014, com a anexação da Crimeia.
O pano de fundo do conflito era o desejo do governo Volodimir Zelensky de ingressar na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) - e a ameaça que Putin vê nesse processo, de ter um membro da aliança militar do Ocidente nas suas barbas.
A guerra começou com bombardeios a várias cidades ucranianas e um avanço por terra que encontrou forte resistência em Kiev, a capital. Assim, as tropas russas começaram a ocupar a Ucrânia pelas beiradas, especialmente o leste e o sul do país.
Hoje temos uma guerra de baixa a média intensidade - aqueles conflitos duradouros que, infelizmente, são esquecidos por boa parte do mundo, como muitas guerras civis africanas. A Rússia controla 17% do território ucraniano. A prometida contraofensiva das tropas de Zelensky não avançou muito, praticamente não reverteu o cenário que se tinha antes da ação. Os militares avançaram apenas 17 quilômetros, arrancando nacos de terra que estavam nas mãos dos russos. Os conflitos atuais se localizam, por exemplo, na região de Avdiivka, próxima de Donetsk.
A Rússia, que se tornou alvo de várias sanções econômicas, acabou resistindo - sofreu danos, mas sobrevive driblando as punições internacionais com apoio da China e do Irã.
Desde o início do conflito, lá em fevereiro do ano passado, eu costumava dizer que a guerra iria durar o tempo que durasse a ajuda do Ocidente à Ucrânia. Sem armas e recursos financeiros, o país de Zelensky sucumbe rapidamente aos russos. Esse ponto, agora, se torna bastante atual diante do novo conflito entre Israel e Hamas.
Não é só a atenção do planeta que migrou do Leste Europeu para o Oriente Médio. Também grande parte dos recursos dos Estados Unidos foi direcionado para Israel, o principal aliado americano na região. Esse é o maior temor, por exemplo, do governo Zelensky: ficar sem apoio da Casa Branca ou ter reduzida essa ajuda, fundamental para resistir às ofensivas russas.
Muitos analistas consideram que ganhará a guerra quem conseguir suportar, por mais tempo, as perdas em suas fileiras.
Nos últimos dias, o presidente ucraniano tem vindo a público pedir que o mundo não esqueça seu país. Mas o cenário não é positivo para a Ucrânia: o presidente americano, Joe Biden, pediu ao Congresso aprovação de um pacote de US$ 106 bilhões em segurança, desses US$ 60 bi seriam destinados para a Ucrânia. Mas a Câmara americana tem um novo presidente, o republicano Mike Johnson. Embora a guerra na Ucrânia seja unanimidade entre republicanos e democratas, os primeiros tendem a estarem mais preocupados com Israel do que com o país de Zelensky. Para piorar para os ucranianos, no ano que vem haverá eleições presidenciais nos EUA e Donald Trump aparece com chances de voltar à Casa Branca. Trump, além de simpático a Putin, é muito próximo de Benjamin Netanyahu, o primeiro-ministro israelense, o que pode se converter em corte na torneira dos dólares que correm para a Ucrânia e o redirecionamento para o Oriente Médio.
Mas a eleição americana será só em novembro - e quem sabe os dois conflitos já nem estejam mais ocorrendo até lá, embora eu duvide.