Os drones elevaram a guerra entre Rússia e Ucrânia a um novo patamar. São as "estrelas" do conflito.
Do ponto de vista estratégico, possibilitaram que a Ucrânia levasse a guerra para dentro da Rússia e dos territórios ocupados pelas forças de Vladimir Putin no leste ucraniano. Em maio, esses equipamentos foram jogados contra o Kremlin, a sede da presidência, em uma ação vista pelos russos como uma tentativa de assassinato de Putin. A Ucrânia nega a responsabilidade sobre o episódio. Mas sabe-se que os drones viraram os queridinhos dos ucranianos na contraofensiva deflagrada nas últimas semanas.
Mais de 60 ataques teriam sido realizados no Donbass e do outro lado da fronteira, especialmente em Belgorod. Os alvos: infraestruturas civis, bases aéreas, instalações petrolíferas e unidades militares.
Nada, entretanto, se compara com a cena que ganhou o mundo na quinta-feira: um recruta russo, no meio de uma trincheira, olha para um drone se aproximar dele pelo céu, perto de Bakhmut. Pressentindo que chegara seu fim, destino de dezenas de seus companheiros mortos ao seu redor, ele cruza os braços e busca criar uma linguagem com a máquina: por meio das luzes do drone, compreendeu que um piscar significaria "sim". Se piscasse duas vezes, seria "não".
De alguma forma, a comunicação foi estabelecida: o soldado entendeu que, para não morrer, teria de seguir o drone. Por entre cadáveres de companheiros de trincheira, ele caminhou vários quilômetros atrás da máquina, sendo observado pelos olhares eletrônicos do drone - e dos pilotos que o dirigiam, a milhares de quilômetros dali. Ao avistar a unidade ucraniana, o militar ajoelhou-se e se entregou.
É a primeira vez na história das guerras que um ser humano se rende a um drone. E isso é emblemático.
Em suas ações, a Ucrânia tem utilizado dois tipos de equipamentos: o R18 drone multirotor, capaz de atuar em um raio de ação de 20 quilômetros e transportar até cinco quilos de carga, entre elas granadas soviéticas e bombas capazes de neutralizar blindados. E, mais poderoso, o UJ-22, com raio de 800 quilômetros e capacidade para levar até 20 quilos de explosivos - entre morteiros de 82mm e granadas de foguete RPG-7. Provavelmente, esse era o que estava sobre o soldado russo no episódio dramático acima, já que sua câmera de 64 megapixel cria imagens que permitem reconhecimento e vigilância.
Ao levar a guerra para dentro da Rússia e dos territórios ocupados, a estratégia do presidente Volodimir Zelensky e de seus generais é minar a credibilidade do governo Putin, mostrando a sua população que, assim como os ucranianos, os russos também não terão paz tão cedo - tampouco estarão seguros.