O mínimo que se espera de quem deseja ser um jogador ativo no cenário internacional é uma posição assertiva diante dessas esquinas decisivas da História mundial, como a que estamos vivendo neste final de semana no Oriente Médio. O Brasil, que exerce a presidência rotativa do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) desde 1º de outubro, está diante desse desafio.
Neste sábado, o Itamaraty informou que irá convocar uma reunião de emergência do órgão máximo da ONU para debater a agressão sofrida por Israel pelo Hamas e a resposta israelense - entre ação e reação, o ciclo de violência já deixou, no total, mais de 400 mortos.
Trata-se, ao mesmo tempo, de uma oportunidade para o Brasil exercer protagonismo. Na primeira declaração sobre os incidentes, o presidente Lula condenou o terrorismo, mas não citou o Hamas, grupo extremista islâmico responsável pela ofensiva do sábado, e defendeu ações da comunidade internacional para garantir a existência de um Estado palestino. A posição brasileira é pela existência de dois países, Israel e Palestina convivendo em paz e segurança - a mesma da ONU.
A dura realidade, entretanto, relega essa ideia, a quase uma utopia neste momento. Não haverá paz enquanto o Hamas seguir armado e lançando foguetes contra Israel. Não haverá paz enquanto Israel seguir acossando palestinos na Cisjordânia. Gaza é um enclave terrorista, cuja própria população é vítima dos desmandos dos extremistas. A Cisjordânia se transformou em uma colcha de retalhos, sem continuidade territorial devido às colônias judaicas que inviabilizam a existência de um Estado palestino.
Mas, ainda que a solução de dois Estados seja quase impensável hoje, o Brasil, se quiser, tem um papel a exercer na construção do diálogo. Papel muito maior, diga-se de passagem, do que em qualquer tentativa de mediação de outros conflitos internacionais, como na Ucrânia, por exemplo.
O Brasil tem peso histórico na região e nas relações entre israelenses e palestinos, que ajudaram a forjar nosso povo com levas de imigrantes. O país recebeu milhares de judeus e árabes nos século 19 e 20. Contribuiu, com papel determinante do gaúcho Osvaldo Aranha, para a criação da ONU e a fundação do Estado de Israel. Já sofreu percalços, como na fracassada tentativa de mediação entre Irã e Estados Unidos, na crise nuclear, mas, até pela proximidade com o governo dos aiatolás e da Arábia Saudita e por ser voz respeitada por Estados Unidos (aliado de Israel), Rússia e China (parceiros dos palestinos), tem muito a contribuir. Ee, sobretudo, a tranquilidade de manter o velho e saudável pragmatismo da Escola de Rio Branco.