A maior ofensiva de radicais palestinos desde a Guerra do Yom Kipur, em 1973, pegou Israel de surpresa em um dos momentos institucionais mais frágeis do Estado israelense.
O país vive uma queda de braço entre o governo do primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, e a Suprema Corte. Bibi, como é conhecido, levou a cabo nos últimos meses um ataque frontal aos demais Poderes, tentando controlar o Judiciário, e provocando gigantescos protestos. O velho premier tem sua própria legitimidade questionada nas urnas, por partidos rivais, pela dificuldade em se chegar a acordo para formação de gabinete do Executivo (o que levou o país a sucessivas eleições legislativas recentemente) e pelos processos por corrupção dos quais é alvo. Bibi tem ânsia de poder. E seu desejo coloca em risco a democracia israelense, a única consolidada da região.
O movimento extremista islâmico Hamas identificou - o que não seria muito difícil, diga-se de passagem - o momento de fragilidade de Israel em termos institucionais. Mas não deixa de surpreender a comunidade internacional e os especialistas em segurança a ofensiva por terra, mar e ar levada a cabo pelos radicais neste sábado (7).
A ação palestina e a reação israelense fazem girar, de novo e infelizmente, a roda insana da violência sem fim do Oriente Médio. Tudo indica que houve uma falha brutal de segurança nesse que é considerado o Estado mais seguro do mundo. A Faixa de Gaza, de onde partiram os ataques, é um território equivalente à metade da área de Porto Alegre. É uma das zonas mais vigiadas do mundo - por drones, câmeras e forças especiais israelenses infiltradas no terreno. Ou alguém não viu ou fez vista grossa. É improvável que o exímio serviço de inteligência israelense não tenha detectado uma ação desse tipo, com o uso inclusive de parapente pelos extremistas.
Como se sabe, em momentos de guerra, líderes que se apresentam como fortes costumam amalgamar populações. Bibi vai tentar tirar proveito do momento para se equilibrar no poder - e acumulá-lo. Mas suas ações em retaliação já em andamento podem ser limitadas pelo novos contextos regional e internacional.
A explosão do conflito atual ocorre no momento em que os Estados Unidos, principais aliados israelenses, já não têm tanto interesse geopolítico na região. Os olhos da Casa Branca estão, agora, voltados para a Rússia (aliada do Irã, que financia o Hamas) e China, que, por sua vez, tem todo o interesse no Oriente Médio, rota da Belt and Road Initiative (a nova Rota da Seda). A China, cuja força ficou demonstrada ao patrocinar a reaproximação entre Irã e Arábia Saudita, é o novo ator político da zona. Pequim irá atuar também como mediador entre israelenses e palestinos? Não sabemos. Talvez seja a grande oportunidade de o gigante se mostrar ao mundo com poder de agenda e capacidade de atuar em um papel que outrora era dos EUA.