Um ano atrás, a formação de uma estranha aliança entre oito partidos - da extrema direita à extrema esquerda, incluindo pela primeira vez árabes no governo- permitiu retirar do poder Benjamin Netanyahu, o primeiro-ministro que mais tempo ficou no comando de Israel, 12 anos. A frente previa o compartilhamento inclusive do cargo de premier - primeiro ficaria com Naftali Bennett, o atual chefe de governo, e depois assumiria Yair Lapid, que hoje é ministro das Relações Exteriores.
A esdrúxula aliança era frágil desde o início. Mas foi celebrada porque, além de encerrar dois anos de paralisação política e colocar para fora do Executivo um primeiro-ministro acusado de corrupção, também alcançou consenso para aprovação do orçamento do Estado para 2022. Mas parou aí.
Na segunda-feira (20), a coalizão desmoronou. E o parlamento deve ser dissolvido oficialmente na semana que vem. Isso significa que o país irá passar por mais uma eleição - a quinta em três anos. Mesmo em um sistema de governo parlamentarista, onde as trocas de governo costumam ocorrer sem sobressaltos, tamanho número de eleições em tão pouco tempo é incomum.
A crise mostrou o quanto a questão da segurança de Israel e o conflito com os palestinos influenciam a política doméstica. Várias divergências já vinham minando a união dos partidos. Mas o estopim da derrocada foi a renovação de uma lei que concede aos 475 mil colonos judeus que moram em assentamentos na Cisjordânia (território palestino) os mesmos direitos de quem vive em Israel. A direita abandonou o governo. Os árabes do Raam já haviam saído em razão dos confrontos quase diários entre policiais e manifestantes palestinos, que recrudesceram nos últimos meses.
Nos bastidores, o ex-primeiro-ministro Netanyahu, como bom estrategista que é, soube explorar as fragilidades da coalizão. A segurança de Israel sempre foi a principal bandeira de seu governo. E o fato de o governo contar com árabes é considerado por Bibi, o apelido do ex-premier, uma traição.
O cenário político futuro é incerto. Mas não é improvável inclusive que Bibi consiga voltar ao poder, apesar das acusações de corrupção a que responde na Justiça israelense. O Likud, seu partido, tem 30 das 12o cadeiras da Knessett. É a maior bancada, mas não suficiente para governar sozinho. Netanyahu precisaria formar acordos com outros partidos para voltar ao Executivo. Apesar de sua rejeição, não é impossível. Na hora do aperto, talvez Bibi possa ressurgir como salvador da pátria.