É óbvio que o Conselho de Segurança, órgão máximo da Organização das Nações Unidas (ONU), não espelha a balança de poder do mundo atual. Mas será muito difícil que o Brasil consiga, a curto ou médio prazos, a reforma do órgão responsável por definir a paz ou a guerra no planeta. Aliás, essa demanda, reforçada pelo presidente Lula na abertura da Assembleia-Geral, em Nova York, na semana passada, é um dos poucos assuntos em política externa que une diferentes campos do espectro político - de lulistas a bolsonaristas.
O Conselho de Segurança foi desenhado à imagem e semelhança do mundo que ressurgiu das cinzas da Segunda Guerra Mundial, em 1945, com cinco membros permanentes: Estados Unidos, Reino Unido, França, China e Rússia. Essas nações têm poder de vetar qualquer resolução proposta, desde uma medida que puna uma determinada nação por uma eventual agressão a outro território ou uma resposta armada no caso de operações sob os auspícios da ONU. Por exemplo, a Rússia, que invadiu a Ucrânia em janeiro de 2022, jamais aprovaria uma resolução contra si própria. Por isso, iniciativas desse tipo já nascem mortas.
Quando a ONU foi criada, os cinco membros permanentes eram os países mais poderosos do globo - e todos detinham armas nucleares. Hoje, essas não são as únicas nações a dispor de bombas atômicas - Índia, Paquistão, Coreia do Norte, Israel (embora negue) também as têm. Do ponto de vista geopolítico, Alemanha, Japão, Índia e Brasil, por exemplo, são nações que adquiriram importante peso na mesa de negociações. As próprias definições de capacidades mudaram: hoje, população, poderio econômico e temas ambientais são tão importantes no xadrez político quanto tanques e mísseis.
Dificilmente haverá a reforma do Conselho. A China é o principal obstáculo. Porque uma mudança abriria a porta para entrada de Japão e Índia, dois de seus rivais na Ásia. Aos EUA, embora o presidente Joe Biden tenha defendido a ampliação, também pouco interessa alterações no equilíbrio de poder porque isso significaria mudar um desenho que lhe é confortável. Além disso, importantes países da América Latina, como Argentina e México, dificilmente apoiariam a entrada do Brasil no Conselho porque isso desequilibraria a balança de poder na região - a despeito de alinhamentos ideológicos momentâneos.
A única reforma do Conselho foi feita em 1965 quando o número de membros não permanentes foi elevado de oito para 10 - hoje, o Brasil detém a presidência do órgão, mas segue sem direito a veto. A concentração de poder na mão dos cinco grandes não mudou - e não mudará.