Não é de hoje que a Europa está de olho na ameaça representada por células neonazistas com conexões internacionais no sul do Brasil.
Na segunda-feira (5), a coluna destacou uma reportagem do jornal The Times, de Londres, que conecta a prisão de oito homens em Santa Catarina, em novembro de 2022, ao movimento Hammerskins, a mais violenta organização de supremacistas brancos dos Estados Unidos.
Financial Times, outro importante jornal britânico, publicou uma ampla reportagem sobre os neonazistas sulinos. O diário londrino, especializado em finanças, despachou o chefe de sua sucursal no Brasil para Pomerode, São Miguel do Oeste, Joinville e Blumenau, todos municípios catarinenses, para entender o fenômeno.
Intitulada "'Um povo, um Reich': grupos neonazistas se espalham pelo sul do Brasil", a reportagem, de autoria de Bryan Harris, foi publicada em 11 de agosto, antes, portanto, do relato do Times.
O texto começa contando a história da ex-vereadora Maria Tereza Capra, do PT. Ela teve o mandato cassado pela Câmara de São Miguel do Oeste, depois de ter criticado, em suas redes sociais, o gesto feito por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro em frente a um quartel do Exército, em 2 de novembro, depois do segundo turno da eleição presidencial. Em imagens gravadas, os manifestantes aparecem com o braço direito esticado e a palma da mão aberta para baixo, reproduzindo a saudação nazista. De acordo com o relatório da comissão da Câmara, a então vereadora foi responsável por "propagar notícias falsas e atribuir aos cidadãos de Santa Catarina e ao município o crime de fazer saudação nazista e ser berço de célula neonazista". Os vereadores disseram que o gesto é algo “culturalmente comum na região”, feito em cerimônias religiosas e graduações. A saudação, que foi reproduzida em redes sociais, foi criticada pelo Museu do Holocausto e pelas embaixadas da Alemanha e de Israel.
O texto do Financial Times afirma que, nos últimos meses, o sul do Brasil tem sido foco de inúmeras ações policiais investigações sobre células neonazistas. Pelo menos 12 operações foram realizadas em uma semana de julho, com apreensão de material de apologia ao nazismo, armas de fogo e facas.
Treze dos 15 locais em que ocorreram mandados de busca e apreensão ficam em Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul. A reportagem é acompanhada de um mapa com a localização das operações. Nele, aparecem as gaúchas Passo Fundo e Nova Petrópolis, alvos de ações em 11 de julho. Na primeira, no norte do Estado, a polícia encontrou camisetas com símbolos nazistas em uma estamparia. Na segunda, na Serra, foram apreendidas armas, munições e material com ícones de apologia ao Terceiro Reich.
As ações foram fruto de outra investigação sobre a fabricação de uma arma de fogo, usando uma impressora 3D, por uma célula neonazista de Santa Catarina. Segundo a polícia, o grupo praticava “rituais de culto à doutrina hitlerista e se autodenominava ‘as novas SS de Santa Catarina’”, diz o Financial Times, com base no inquérito policial.
Também a Reuters, agências notícias com sede no Reino Unido, está de olho na ameaça neonazista no Brasil. O veículo informou que, nos primeiros seis meses deste ano, foram mais de 20 inquéritos policiais sobre grupos extremistas, contra nove em todo o ano passado e apenas um em 2018.