No caso Watergate, o mais célebre escândalo político do século 20, nos Estados Unidos, a sede do Partido Democrata foi invadida na calada da noite, em Washington. A história poderia ter ficado para sempre como um arrombamento comum de um sala de escritórios, mas foi a tentativa de escamotear um crime político que levantou a desconfiança dos jornalistas do Washington Post, farejadores de corrupção por excelência. Na sequência, você sabe: as descobertas foram subindo na cadeia de responsabilidades, até o círculo mais próximo do presidente e ao próprio Richard Nixon.
Em geral é assim, criminosos são pegos no contrapé, quando tentam ocultar as pegadas de seus crimes. Por isso que uma das máximas da crônica policial é: o suspeito nunca volta ao lugar do crime.
A rocambolesca história do Rolex cravejado de diamantes ganho como presente por Jair Bolsonaro nas Arábias desmente essa frase. O general Mauro César Lourena Cid, pai do ajudante de ordens tenente-coronel Mauro Cid, vendeu o relógio nos Estados Unidos em junho de 2022. Quando a crise das joias recebidas pela comitiva presidencial veio a público e o Tribunal de Contas da União (TCU) determinou que Bolsonaro devolvesse a peça, o advogado do ex-presidente Frederick Wassef voltou ao território americano, em março de 2023, para recomprar o acessório de luxo. Retornou ao Brasil e o entregou a Mauro Cid (o filho), que o levou a Brasília para passá-lo ao tenente Osmar Crivelatti, assessor de Bolsonaro.
Foi na recompra do objeto, uma tentativa de acobertar o crime, que a casa caiu. E caiu graças também a uma barbeiragem do general Cid (o pai), que, ao tirar a foto de outro item de luxo, uma caixa com uma palmeira folheada a ouro (possivelmente também para vender), por descuido, deixou que sua imagem aparecesse no reflexo do objeto.
Cid pai, Cid filho e Crivelatti são militares. Cid pai, general quatro estrelas, o mais alto posto do Exército Brasileiro. Os três homens do presidente são, agora, suspeitos de corrupção, um crime do qual as Forças Armadas sempre se gabaram de estarem, por origem, imunizadas. Não estão. A idoneidade da instituição e sua associação com a política em geral e com Bolsonaro, ex-capitão, em particular, ficará, por longo tempo, manchada.