Seja o colar que seria entregue ao casal Bolsonaro ou os relógios de luxo recebidos pelos ministros do governo anterior, esses itens, presentes das ditaduras árabes, são manchados de sangue.
No caso da Arábia Saudita, o "mimo" avaliado em R$ 16,5 milhões e destinado ao ex-presidente Jair Bolsonaro e à então primeira-dama Michelle Bolsonaro foi um presente de Mohammed bin Salman, o mais truculento dos absolutistas árabes da atualidade. Aos 37 anos, o príncipe é o herdeiro da Casa de Saud e acusado pela inteligência americana do assassinato do jornalista Jamal Khashoggi. Você deve lembrar: aquele colaborador do The Washington Post, crítico da monarquia, que "desapareceu" ao entrar na embaixada saudita em Istambul em 2018 e que teve o corpo esquartejado.
Não bastasse isso, MBS, como é conhecido o dono do Newcastle (um dos seus tantos investimentos no Exterior), comanda o país do Golfo Pérsico como seu playground de terror particular: persegue mulheres, que não podem sair sozinhas de casa, põe opositores na cadeia - ou os mata, como no caso do jornalista - e permite tortura de prisioneiros. Além do mais, seu governo proíbe igrejas e a prática do cristianismo, ou seja, não há liberdade religiosa no reino.
A Arábia Saudita, em conflito com o Iêmen, também é acusada de cometer crimes de guerra contra os houtis e de apoiar grupos jihadistas. Aliás, você também deve lembrar que foi da Arábia Saudita que saíram 15 dos 19 terroristas que atacaram os Estados Unidos em 11 de setembro de 2001. Osama bin Laden também era saudita.
Apesar de tudo isso, o reino é aliado dos Estados Unidos, dentro da lógica de que "o inimigo do meu inimigo é meu amigo". No caso, o inimigo comum, aqui, é o Irã xiita, outra ditadura, diga-se de passagem.
A situação no Catar, origem dos relógios de luxo presenteados à delegação brasileira, não é muito diferente. O país, governado pela Casa de Thani, é um emirado absolutista. Ganhou certo salvo conduto da FIFA e da comunidade internacional durante o Mundial de futebol, no ano passado, mas não deixa de ser também uma ditadura sanguinária. O regime que presenteou as autoridades brasileiras persegue a comunidade LGBTQI+, desrespeita direitos das mulheres e não permite a existência de oposição. Aliás, mantém vários presos políticos e foi acusado de maus tratos a trabalhadores migrantes que ajudaram a construir os estádios para a Copa.