Quem cobre o Vaticano conhece um ditado que ressurge a cada conclave: "Quem entra Papa na reunião secreta da Capela Sistina, costuma sair cardeal". Ou seja, o favorito para ocupar o trono de São Pedro normalmente é preterido.
Cristiano Zanin entrou no conclave do Supremo Tribunal Federal (STF) ministro e saiu... ministro. Desde a eleição presidencial, o advogado de Lula era favoritíssimo para ocupar a vaga de Ricardo Lewandowski. Tanto que, desde o início do ano, ele costumava frequentar jantares com presença dos agora colegas de Suprema Corte, gabinetes e corredores do Congresso. Quando Lula oficializou sua indicação, acabou sendo mera formalidade.
Mesmo vestindo a capa preta da mais alta corte de Justiça brasileira, Zanin nunca deixará de ter, para a História, sua imagem associada a Lula, de quem foi mais do que advogado. Foi amigo e confidente nos mais de 500 dias de prisão em Curitiba.
A indicação de Zanin pelo chefe do Executivo e a chancela do Supremo ocorreram dentro da legalidade: a Constituição garante que cabe ao presidente indicar os nomes dos integrantes da Suprema Corte brasileira — é assim também nos Estados Unidos, modelo ao qual o Brasil se espelha. Como requisito, é preciso ter mais de 35 e menos de 70 anos, ser cidadão brasileiro, possuir notável saber jurídico e reputação ilibada. Zanin, ao que se sabe, é íntegro e um brilhante advogado. Mas o notável saber jurídico é aquilo que está acima da média do conhecimento de todos, o que inclui conhecimento acadêmico, livros publicados, reconhecimento nacional e internacional como jurista.
Além disso, embora legal, sua indicação não, necessariamente, é moral. Zanin no Supremo viola o princípio da impessoalidade do serviço público — quantas vezes criticamos o governo anterior, de Jair Bolsonaro, por misturar o público e o privado. O caso de Zanin mistura também as duas esferas.
Espera-se, no mínimo, que o mais novo membro da Corte se declare impossibilitado de julgar casos referentes ao presidente e amigo. Os processos herdados de Lewandowski, com correlação direta ao governo Lula, também exigirão atenção redobrada. Diante dos olhos da sociedade, sempre haverá suspeita. A cada decisão caberá a Zanin, a quem não é dado o princípio da inviolabilidade dos papas do Vaticano, ser mais realista do que o rei.