Os ataques com drones nas últimas semanas em Moscou podem ser vistos como eventos isolados de uma guerra que já passa de 15 meses no Leste Europeu. Ou a História poderá descrevê-los como um ponto de inflexão após o longo inverno, no qual vitórias relativas da Rússia pressionaram, na mesa de negociações, por um cessar-fogo nos termos de Vladimir Putin.
Na semana passada, um drone foi arremessado contra o bairro de Rublyovka, onde mora a elite russa na capital. No dia 6 de maio, outra aeronave não tripulada caiu sobre o mastro da bandeira no Kremlin. Mais do que os estragos, há o poder simbólico desses eventos, que podem indicar o início de uma nova fase do conflito.
Desde domingo (4), estaria em marcha a contraofensiva ucraniana prometida para a primavera no Hemisfério Norte para abrir fissuras na linha de frente russa em Donetsk, uma das duas regiões separatistas que Putin julgava ter consolidado a anexação. Seriam dois os focos: Bakhmut, ocupada em maio pelos mercenários do grupo Wagner, e Zaporizhia, onde fica a maior usina nuclear da Europa.
Uma vez abertos buracos nessas frentes, a Ucrânia acredita que romperá a ponte terrestre erguida pelo Kremlin entre o território russo e a Crimeia anexada em 2014.
Nesta segunda-feira (5), a Ucrânia silencia, propositalmente, sobre a ação militar. Um porta-voz de suas forças armadas, Bohdan Senyk, disse à CNN que “não tem informações” sobre a suposta “ofensiva em larga escala”. É uma tentativa, ainda que inócua em pleno século 21, de manter o efeito-surpresa.
Na guerra da desinformação que caracteriza todos os conflitos (mas este, em particular), a Rússia disse ter repelido um ataque com duas brigadas envolvidas em Donetsk. Os militares afirmaram ter matado 250 ucranianos e destruído veículos blindados usados no ataque, mas forneceram poucas evidências.
Coube aos Estados Unidos anunciar o suposto início da ofensiva, baseado em informações de seus satélites. Provavelmente, tudo armado com o governo ucraniano a fim de manter a dúvida no ar.
Além de uma eventual vitória concreta no teatro de operações, um avanço ucraniano no terreno pode ter efeitos na mesa de negociações. Com Donetsk e Luhansk ocupadas e anexadas pela Rússia, um cessar-fogo eventualmente só ocorreria se o status quo fosse mantido - ou seja, Putin seria o vitorioso. A fragmentação no terreno, por outro lado, demonstra ao mundo que a guerra ainda não acabou.