Chuva não mata. O que mata é enchente, deslizamento de terra e ponte arrancada pela enxurrada e levada rio abaixo.
Também não é o morro que desce e mata. São os seres humanos que sobem o morro porque, muitas vezes, não há lugar para eles no asfalto. O que mata é a desigualdade social e a ausência de planejamento urbano, que deixam as pessoas mais vulneráveis nas encostas ou próximas a rios e arroios.
Chuva não mata. O que mata é a urbanização desordenada, gestão inadequada dos rios e a ineficaz ocupação do solo.
Historicamente, o outono e o inverno no Rio Grande do Sul são chuvosos. Sabemos que os rios se alimentam das precipitações, que os eventos climáticos extremos estão mais frequentes e que o fenômeno El Niño, de tempos em tempos, se apresenta de forma mais contundente.
Não falo de planos de contingência. Nos últimos anos, evoluímos no Rio Grande do Sul em termos de alertas de emergência diante de tempestades que se anunciam nos mapas meteorológicos. Falo de algo estrutural, de planejamento urbano. De algo que é anterior às tentativas de retirar moradores de zonas de risco quando a água está prestes a subir ou o morro a desmoronar. Isso é importante, necessário até. Mas quem, mesmo diante do perigo, gosta de deixar sua casa? Até na Ucrânia sob bombas vi pessoas se negando a abandonar seus lares.
Falo de desenvolvermos uma cultura de segurança, de pensarmos as cidades de forma estruturada, de manejo do solo, de ordenamento urbano, drenagem, desocupação perpétua de áreas de risco, com reposicionamento de famílias em outros locais, de criação de reservas florestais nas margens dos rios. Porque chuva, chuva não mata.