
Até agora, nas viagens internacionais que fez neste terceiro mandato, o presidente Lula tem sido recebido com tapete vermelho por onde passa. Foi assim na Argentina, no Uruguai, nos Estados Unidos, na China e nos Emirados Árabes Unidos.
Com maior ou menor simpatia pelo governante brasileiro, quem está no poder costuma dar uma receptividade de chefe de Estado a Lula. No caso da China e dos Emirados Árabes Unidos, ditaduras de esquerda e de direita, respectivamente, a oposição é amordaçada. Não se poderia esperar protestos.
Mas, agora, na Europa, as oposições devem fazer barulho. Lula chegou nesta sexta-feira (21) a Portugal. Na semana que vem irá à Espanha.
Os governantes nesses países são de centro (presidente Marcelo Rebelo) ou centro-esquerda (primeiros-ministros português, António Costa, e espanhol, Pedro Sánchez), mas a extrema direita cresceu bastante nesses países nos últimos anos - como, aliás, em várias partes da Europa.
Há sérios riscos políticos. Lula foi convidado a discursar no parlamento português em um dia delicado: o 25 de abril, feriado nacional, que marca o fim da ditadura de António Salazar. A extrema direita, organizada em torno do Chega, terceira força política portuguesa, além de representantes da direita tradicional, no Partido Social Democrata (PSD) e a Iniciativa Liberal (IL) ameaçaram boicotar a fala.
Nesta sexta-feira (21), surgiu a informação segundo a qual, para evitar constrangimentos, o presidente decidiu não se pronunciar na sessão solene que lembrará a Revolução dos Cravos. Ele será recebido na Casa, mas antes, em outro evento. Assim, antecipará a viagem para a Espanha.
O outro ponto de atenção é que a viagem ocorre poucos dias depois das falas de Lula responsabilizando tanto Ucrânia quanto Rússia pela guerra. Esse é um tema sensível no continente: a guerra ocorre na Europa, que se sente em grande parte agredida e ameaçada pela Rússia, entende a Ucrânia como parte de seu corpo territorial, histórico e simbólico e tem despachado apoio financeiro, logístico e bélico para ajudar o país invadido a se defender. Em Portugal, aliás, Lula foi bastante criticado pelas declarações que deu - embora, depois, em uma (tardia) operação de contenção de danos, tenha condenado a violação territorial ucraniana.