Ao lançar sua candidatura à reeleição, nesta terça-feira (25), Joe Biden busca ocupar o espaço político e acelerar a arrecadação de fundos para a campanha eleitoral. Embora em boas condições de saúde, o democrata sabe que sua idade avançada - tem 80 anos e, uma vez eleito, terá 86 ao terminar o mandato - será tema fundamental de campanha. É certo que o assunto será explorado pela oposição republicana em geral e por Donald Trump em particular, mas os próprios democratas questionam sua capacidade para um próximo mandato.
Mas é preciso dominar a narrativa. A data é simbólica: em 25 de abril de 2019, Biden lançou sua campanha que, em 2020, derrotaria Trump. Nos últimos dias, o debate político nos EUA tem se concentrado no processo legal contra a Fox News e a demissão de seu principal âncora, Tucker Carlson, que comprou, junto com a emissora, a versão mentirosa do governo Trump sobre a suposta fraude eleitoral. É um bom momento para os democratas atacarem.
Além disso, é preciso antecipar a arrecadação de fundos. Biden já deve se encontrar com alguns dos principais doadores de sua campanha anterior nesta semana. A jornada que está começando será mais cara do que a anterior, baseada essencialmente em redes sociais e encontros virtuais uma vez que se vivia o auge da covid-19.
Há vários desafios pela frente no caminho da reeleição. A vitoriosa caminhada de 2019 e 2020 foi construída sob o argumento da retomada da alma da nação americana, após quatro anos de Trump, um político isolacionista, que retirou os EUA de muitos arranjos internacionais e que colocou em risco a democracia, cujo ápice foi o ataque de 6 de janeiro de 2020 no Capitólio. Esse discurso, embora importante, não será suficiente para Biden permanecer no Salão Oval. Os americanos votarão pensando no bolso: dados do emprego em março mostram desaceleração da economia, a inflação e o juro seguem em alta e a crise dos bancos sinaliza alerta. A agenda de defesa da democracia e o tema ambiental, em que o democrata vai bem, são temas distantes do americano médio. E há muita gente que acha que o governo gasta recursos e energia demais com a guerra na Ucrânia - aliás, encerrar "guerras eternas", como o Afeganistão, foi um dos lemas que levaram Trump à Casa Branca em 2016.
Reeleger o presidente é uma tradição nos EUA - Trump foi uma das exceções. Mas a verdade é que nem o republicano nem o democrata entusiasma os eleitores. Biden pode derrotar Trump de novo - e, mais uma vez, será uma disputa apertada. No entanto, não se sabe como ele se sairia diante de um candidato mais jovem, como Ron De Santis, governador da Flórida, de 44 anos, estrela em ascensão da direita americana e que ainda não apresentou-se como candidato. Esse, sim, é uma ameaça a Biden e ao próprio Trump.