Em entrevista na tarde desta quarta-feira (15) na sede da embaixada dos Estados Unidos em Brasília, a embaixadora americana Elizabeth Frawley Bagley comentou a solicitação feita pelo Irã para que dois navios de guerra atracassem no porto do Rio de Janeiro.
As embarcações Iris Makran e Iris Dena receberam autorização em 13 de janeiro para a operação a ser realizada entre 23 e 30 daquele mês. Essa janela foi, posteriormente, rejeitada pelo Brasil. Extraoficialmente, sabe-se que a ideia era não provocar mal-estar com o governo americano às vésperas da viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Washington, para encontro com Joe Biden. Agora, aos navios estão autorizados a atracar entre 26 de fevereiro e 3 de março.
- O Brasil é soberano. Mas acredito fortemente que esses navios não deveriam atracar em lugar nenhum - disse Elizabeth, durante entrevista coletiva convocada para avaliar o encontro entre os dois presidentes na Casa Branca, no dia 10.
A embaixadora afirmou ainda que, a se confirmar a permissão para que as embarcações atraquem, o Brasil seria o único país do Hemisfério Ocidental a aceitar a presença desses navios. Ela lembrou que, em outros momentos, aparelhos desse tipo facilitaram o comércio ilegal e atitudes terroristas. Elizabeth destacou, entretanto, que o tema não foi tratado na reunião entre Lula e Biden.
No Rio, os navios seriam reabastecidos, e a tripulação passaria alguns dias na cidade, antes de seguir para o Canal do Panamá. A justificativa oficial para a visita é a celebração dos 120 anos das relações diplomáticas entre Brasil e Irã.
Irã e Estados não têm relação diplomáticas. O país governado pelos aiatolás é alvo de sanções americanas em razão de seu programa nuclear. O governo brasileiro adota o princípio de não reconhecer punições unilaterais - no caso, dos Estados Unidos -, apenas as aprovadas em âmbito do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU). Logo, não haveria, em tese, razões para rejeitar o pedido iraniano.
Durante a entrevista, ao avaliar a visita de Lula a Washington, a embaixadora destacou a aproximação entre os presidentes brasileiro e americano.
- Gostaria de enfatizar que o encontro foi um dos mais significativos dos últimos anos. Para os EUA, a reunião mostrou a verdadeira parceria que existe entre nossos países e as oportunidades para melhorar a vida e o futuro de nossos povos - destacou.
Como exemplo do alinhamento entre os dois chefes de Estado, Elizabeth destacou o tempo, maior do que o previsto na agenda, em que eles ficaram conversando - no Salão Oval, a sós (acompanhados apenas de seus intérpretes), e, posteriormente, na reunião ampliada. Cerca de um terço dos secretários do governo americano, segundo ela, participaram do segundo encontro, na Sala de Gabinete, outra mostra do interesse em cooperação bilateral.
A embaixadora confirmou a decisão americana de ingressar no Fundo Amazônia para a proteção da floresta, mas não estipulou valores, reafirmando que essa decisão passará por discussões na Casa Branca e com o Congresso. Acredita-se que os recursos fiquem na faixa dos R$ 50 milhões, cifra menor do que o esperado, segundo alguns diplomatas brasileiros.
Ela salientou ainda que vários altos funcionários do governo americano deverão vir ao Brasil para preparar a viagem de Biden ao país, ainda sem data para ocorrer.