A retenção de seis gestantes no Aeroporto Internacional de Ezeiza, nos arredores de Buenos Aires, acendeu um alerta entre as autoridades argentinas, de uma possível rede de tráfico de mulheres por meio de uma espécie de "turismo do parto". O passaporte argentino seria o principal benefício para as gestantes que estariam pagando o equivalente a até R$ 77 mil para fugir da Rússia, país em guerra com a Ucrânia e isolado politicamente, ter o bebê na Argentina e receber documentação.
Uma investigação foi aberta diante do aumento significativo de cidadãs russas, em avançado estágio da gestação, que ingressaram no país. Em 2010, foram 10,5 mil entradas nessas condições. Sete mil saíram, segundo autoridades migratórias, portando passaporte argentino.
O Departamento de Migrações entrevistou nos últimos dias 350 grávidas russas. Segundo Florencia Carignano, chefe do órgão, a partir das falas, é possível suspeitar de duas redes que o governo considera mafiosas, com atuação na Argentina, na Rússia e em países intermediários do Leste Europeu.
- A Argentina tem uma história e uma legislação que abraçam os migrantes que escolhem viver no país em busca de um futuro melhor. Isso não justifica que organizações mafiosas lucrem oferecendo obtenção de nosso passaporte a pessoas que não querem residir em nosso país - diz Florencia.
As suspeitas, em Buenos Aires, recaem sobre a empresa RuArgentina, que, em seu site, se define como uma rede de portais que oferece pacotes de turismo e de "turismo de nascimentos" na Argentina. Entre os benefícios para as russas que decidirem adquirir os pacotes, o site cita "medicamentos de alta qualidade, entrada sem necessidade de visto, cidadania argentina para o filho, residência permanente imediatamente e direito de obter cidadania argentina de forma simplificada para os pais".
Uma reportagem do jornal La Nación informa que o dono da RuArgentina é Kirill Makoveev, que chegou ao país em 2015. Desde 2017, ele se dedica a trazer cidadãos russos e seria o ideólogo do "turismo de maternidade".
- Uma mulher pode requerer mais ou menos assessoramento. Algumas necessitam para ir ao supermercado e outras, para conseguir um hospital. Nós podemos prestar tudo, o que variam são os especialistas a que podemos contratar. Disso depende o valor - disse Kirill ao jornal argentino, esclarecendo que atua apenas com hospitais privados.
A Argentina é um dos poucos países que não exige visto para ingresso. A investigação ainda em fase inicial aponta que as mulheres dão à luz, fazem os documentos e retornam à Rússia. O passaporte argentino permite que se entre, sem visto, em 173 países do mundo.