Aos poucos, o governo Luiz Inácio Lula da Silva começa a compor o segundo escalão da diplomacia, o que já permite algumas conclusões sobre o perfil do novo Itamaraty, ministério que ganhou grande importância a partir das promessas de reinserção do país no cenário global. Nesta quinta-feira (19), o embaixador Sérgio França Danese, atualmente no Peru, foi anunciado como representante permanente do Brasil junto às Nações Unidas, em Nova York. Também foram divulgados os novos secretários. Em comum, nomes experientes, que já desempenharam um ou dois postos de chefia de representações diplomáticas no Exterior, o que indica obediência aos critérios de antiguidade e hierarquia, temas caros à Casa de Rio Branco.
O secretário de Assuntos Econômicos e Financeiros (Saef) será Mauricio Lyrio, atual embaixador na Austrália. Ele será o responsável por representar o presidente nas negociações do G20 e na Organização Mundial do Comércio (OMC). Caberá à embaixadora Gisela Padovan a Secretaria de América Latina e Caribe (Salc), com agenda de reaproximação com os vizinhos, que já será colocada à prova a partir de segunda na primeira viagem presidencial, à Argentina.
Atual embaixador na Índia, André Correa do Lago vai dirigir a secretaria de Clima, Meio ambiente e Energia, prioridade da política externa. Eduardo Saboia continuará na chefia da Secretaria de Ásia e Pacífico (Sap). E Leonardo Gorgulho seguirá no comando da Secretaria de Comunidades Brasileiras e Assuntos Consulares e Jurídicos, que terá como desafio cuidar do crescente contingente de expatriados - outra prioridade já indicada pelo chanceler Mauro Vieira.
Outras cinco secretarias devem ter as chefias confirmadas nos próximos dias. Seus ocupantes vã indicar o grau de influência de Celso Amorim, principal conselheiro de Lula no plano internacional e padrinho da indicação de Vieira para a chefia do Itamaraty. Tudo indica um alinhamento ao ex-chanceler. Danese foi porta-voz de Amorim. A secretária executiva Maria Laura da Rocha, primeira mulher no cargo, também é próxima do ex-ministro, de quem foi chefe de Gabinete.
Em sua cerimônia se posse, ela prometeu trabalhar por maior diversidade na diplomacia brasileira, um ambiente normalmente elitista, dominado por homens brancos. Também garantiu que o objetivo da igualdade de gênero deve pairar sobre todas as ações do ministério, ampliando o número de mulheres, negros e negras, pessoas menos favorecidas e de candidatos de todas as regiões do país.
A cobiçada cadeira de embaixador em Washington segue vaga, depois que o gaúcho Nestor Forster, próximo do ex-presidente Jair Bolsonaro, foi removido do cargo. Também o prestigioso posto de cônsul em Nova York, onde atuou a diplomata Maria Nazareth Farani Azevêdo, segue vazio. Ao menos no caso do embaixador, o novo nome para Washington será anunciado somente após consulta prévia ao governo dos Estados Unidos.
Lula, ao escolher a Argentina como primeira viagem presidencial - e não a Davos, na suíça, no Fórum Econômico Mundial - emite um poderoso sinal de reaproximação com os vizinhos. Outro indicativo é a promessa de maior presença internacional. Para Lula, seguidor da política externa "ativa e altiva", mantra de Amorim, inserção é sinônimo de expansão de embaixadas pelo mundo. O plano é reabrir representações fechadas por Bolsonaro, especialmente na África e no Caribe.