Ex-candidata à Presidência, a senadora Soraya Thronicke (União Brasil-MS) tem defendido a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar os ataques antidemocráticos do dia 8 em Brasília. Em entrevista à coluna, ela promete que, se instaurada, a investigação "não acabará em pizza".
Para ser aberta, a proposta precisa de pelo menos 27 assinaturas. A senadora já conseguiu pelo menos 47. Mas não se pode abrir uma CPI em uma legislatura e fechar em outra. Portanto, a ideia é só abri-la após a posse dos novos senadores. Na entrevista a seguir, Thronicke fala sobre os ataques a Brasília, como pretende fazer oposição ao governo Luiz Inácio Lula da Silva e sobre a direita para além do bolsonarismo.
Por que uma CPI é importante nesse momento, se em outras ocasiões, juízos políticos não resultaram em ações concretas de punição?
Os atos antidemocráticos ocorridos no último dia 8 de janeiro marcaram profundamente a nossa democracia. O Brasil foi notícia no mundo inteiro, e todos ficaram estarrecidos com a agressividade e a falta de respeito com o nosso país. O momento político que vivemos hoje conseguiu gerar um alinhamento entre os três Poderes que sustentam nosso Estado Democrático de Direito no sentido de trazer luz e encontrar os responsáveis por essa balbúrdia. A CPI não vai acabar em pizza, tenha certeza disso.
A senhora tem destacado que não há intenção de revanchismo. Mas também alguma atitude assertiva para que esses ataques se impõe como necessária. Que iniciativas podem ser tomadas?
A escultura “A Justiça”, criada pelo mineiro Alfredo Ceschiatti, foi colocada na frente do edifício sede do Supremo Tribunal Federal em 1961. Essa Têmis, representada com uma espada nas mãos, simboliza uma Justiça austera, que julga imparcialmente. É exatamente assim que precisamos enxergar esse episódio, sem revanchismos ou paixões pessoais, simplesmente analisando as provas e aplicando o rigor da lei. Por isso apresentei a proposta da CPI do Atos Antidemocráticos e tenho certeza de que o Senado Federal será um instrumento importante na busca pela verdade.
No dia 1º de fevereiro, caso o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que tem apoiado a CPI, perca a reeleição para a presidência do Senado, como fica a sua proposta de abertura de comissão de inquérito?
O senador Rodrigo Pacheco tem realizado um excelente trabalho e possui o apoio de grande maioria no Senado para sua reeleição. Também entendo que essa CPI tem um papel fundamental para investigação dos atos que aconteceram dia 8 e que teremos o apoio necessário em qualquer cenário interno.
A senhora tem sido uma das vozes mais críticas ao governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. Como acredita que ele pode ser chamado a participar na CPI?
Durante a CPI, caberá ao Senado investigar profundamente todos os fatos ocorridos, buscar provas e encontrar os responsáveis pelo desastre que resultou na vandalização do Congresso Nacional, do Palácio do Planalto e do Supremo Tribunal Federal. Somente após realizarmos uma investigação completa durante todo processo da CPI é que vamos conseguir avaliar a suposta responsabilidade de Bolsonaro.
Que iniciativas são possíveis para reconstruir pontes em um país tão polarizado?Historicamente, os políticos populistas, tanto de direita quanto de esquerda, tentam dividir a sociedade entre “nós e eles” para construir bolhas movidas pelo ódio e impor suas respectivas ideologias. A única forma de implodir tais bolhas é perseverar, educando a população e semeando valores éticos de civismo e respeito ao próximo. O problema é cultural, precisamos mostrar que todos possuem direitos e deveres, ensinar como funcionam os fundamentos da nossa democracia e valorizar a participação de políticos honestos, principalmente as mulheres.
Como a direita pode construir um caminho alternativo ao bolsonarismo, que, a exemplo dos EUA, é maior do que grupos radicais ligados ao trumpismo e ao bolsonarismo?
O momento que vivemos constitui um marco na história da direita brasileira. Farei uma oposição democrática e focada no cidadão brasileiro. Entendo que cada parlamentar, que acredita nos ideais de uma economia liberal e uma política conservadora, no que se refere às instituições, deveria assumir a responsabilidade de reconstruir a direita de forma racional. Precisamos focar no bom combate, debater ideias, articular politicamente, votar de forma responsável, perder, ganhar e seguir lutando dentro das regras da nossa Constituição. Se nossas lideranças seguirem esse caminho, estou certa de que a união da direita responsável acontecerá naturalmente. Assim como aconteceu nos EUA, a democracia brasileira vai sair mais forte dessa crise.