A guerra entre Rússia e Ucrânia subiu mais um degrau na escala de tensão internacional, nesta quarta-feira (26), com o país de Vladimir Putin realizando uma grande simulação de contra-ataque nuclear. A ação pressupõe que a Rússia sofreria uma primeira ofensiva com armas atômicas e, então, daria a resposta na mesma medida ou maior. Para o exercício, que levou o nome de "Grom" (Trovão), foram utilizados submarinos nucleares, bombardeiros estratégicos e mísseis balísticos.
Embora fosse uma simulação de contra-ataque, o objetivo do flexionar de músculos por parte da Rússia é de dissuasão - ou seja, de demonstrar tamanho poder, que intimidaria o inimigo de realizar o primeiro ataque. Desde o início do conflito na Ucrânia, é da Rússia, país com o maior número de ogivas nucleares, que partem todos os movimentos na direção de uma eventual ação com arsenal atômico - a começar pela mobilização de sua força nuclear nos primeiros dias da guerra iniciada em 24 de fevereiro.
Não há qualquer indício ou mesmo sentido tático que indique que algum país do Ocidente ou a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) planeje realizar um ataque nuclear à Rússia. Ao contrário, a sugestão de uso de uma arma tática (atômica, mas com potencial limitado de destruição) sempre aparece em meio a fontes russas.
Mas, em estratégia, nada é por acaso. A simulação russa ocorre ao mesmo tempo que a aliança militar do Ocidente realiza o "Steadfast Noon" ("Meio-dia com Firmeza", código do exercício), o equivalente à manobra do Kremlin de contra-ataque a uma eventual ofensiva nuclear.
Claro que Rússia e Ocidente movimentando seus arsenais preocupam - e passam a imagem de que os dois lados estariam dispostos a tudo. Não é exagero pensar que esse seria um ensaio para o Armagedom - ou o fim do mundo tal qual o conhecemos.
O escalonamento da tensão, pelo lado russo, se dá devido ao suposto plano de a Ucrânia utilizar uma "bomba suja" contra algum dos territórios ocupados pelas tropas do Kremlin.
O termo "dirty bomb", também chamada de "dispositivo de dispersão radiológica" (ou RDD, na sigla em inglês), designa qualquer artefato que, ao ser detonado, espalha um ou vários produtos químicos ou biologicamente tóxicos.
Não há indicativo de que a Ucrânia tenha esses artefatos ou que pense em usá-los. Mas, nos últimos dias, o governo Putin vem insistindo nessa narrativa, inclusive em manifestações no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU). A suposta ameaça encaixa-se na narrativa do Kremlin da seguinte forma: os territórios ucranianos anexados - Kherson, Zaporizhia, Donetsk e Luhansk - são, agora, considerados partes da Rússia por Putin. Uma ataque ucraniano ali seria encarado como um ataque à própria Rússia. Se Putin prevê o uso de armas nucleares em caso de ameaça à segurança da nação, uma ofensiva a qualquer uma dessas quatro áreas dá ao Kremlin o argumento perfeito para um contra-ataque. Trata-se de uma armadilha. Por enquanto apenas retórica - e muito irresponsável. Por enquanto...