Vladimir Putin pode usar armas nucleares na Ucrânia? Pode. É provável? Não.
Usar armas nucleares significaria superar todos os limites das relações entre os países, porque implicaria a morte instantânea de milhares de pessoas inocentes. Ameaçar usá-las é barganha que Putin faz, porque deixa no ar a dúvida - e o medo. Com a ameaça, ele tenta fazer com que os Estados Unidos e a Europa parem de ajudar a Ucrânia - e, consequentemente, teria mais vantagens no campo de batalha.
Agora, embora seja pouco provável, as chances de que ele use são maiores de uns dias para cá. Não pelo discurso de quarta-feira (21), mas pelo cenário realista que se apresenta - e pela forma como Putin, como enxadrista que é, aplica, nesse momento, um xeque ao Ocidente.
O autocrata do Kremlin motivou que, a partir desta sexta-feira (23), quatro regiões da Ucrânia realizem um referendo falso que darão uma falsa vitória à ideia de que as populações que ali vivem desejam a anexação à Rússia. Sendo esses territórios parte da Rússia, na visão de Putin, um ataque aos mesmos com armas convencionais (algo que, em Donetsk e Luhansk, vem ocorrendo todos os dias desde antes da invasão, em 24 de fevereiro), será entendido como um ataque à própria Rússia. Isso fará girar a engrenagem de decisões da doutrina Putin, que verá, na ação, um perigo à "existência do Estado e de sua soberania" - argumento para o uso de armas nucleares.
Contra quem Putin jogaria um míssil com ogiva nuclear? Pode-se imaginar que contra a própria Ucrânia. Mas, como o país recebe armas do Ocidente (leia-se Europa e Estados Unidos), não se pode descartar uma explosão nuclear em outra região - ou mesmo no mar, apenas, mais uma vez, para assustar os inimigos.
O que viria depois? Não se sabe. A única vez que um país utilizou armas nucleares contra outro foi em 1945, quando os Estados Unidos jogaram bombas atômicas contra Hiroshima e Nagasaki, no Japão. Mais de 110 mil pessoas morreram no ataque e outras em decorrência dos efeitos, ao longo de anos. Todo um arranjo de regras foi construído nas últimas décadas para que a relação entre as nações seja harmonizada - e para que não se repita aquele horror. Mas a guerra também sempre foi algo presente na história da humanidade.
Um dos riscos de a Rússia usar arma nuclear é o fato de que a resposta também será nuclear - e aí haverá aniquilação de populações e uma Terceira Guerra Mundial.
Há como pressionar Putin a desistir da ideia? Sim. Nessas horas de tensão, entram em ação os líderes de outros países, que não têm interesse que a guerra se acentue. É o caso da China, que, embora aliada da Rússia, está preocupada com o fato de o conflito atrapalhar seus negócios e a economia mundial. O governo chinês tem forte influência sobre a Rússia e pode pressionar Putin a desistir. Também é possível que novas sanções econômicas sejam aplicadas por parte dos Estados Unidos, como a proibição de que empresas russas façam negócios com companhias do Ocidente. Isso, no entanto, já está ocorrendo há muito tempo, mas não está funcionando.