Houve uma reversão interessante no resultado da eleição brasileira no Exterior, na comparação com o pleito de 2018. Na disputa de domingo (2), o candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) venceu Jair Bolsonaro (PL) com uma vantagem de seis pontos percentuais (47,13% contra 41,63%).
No primeiro turno, em 2018, o vencedor fora Bolsonaro (então no PSL), com 58,79% dos votos. Ciro Gomes (PDT) ficara em segundo, com 14,52%. E Fernando Haddad (PT) alcançara apenas 10,1%. No segundo turno, entre o presidente que seria eleito e o petista, a diferença fora de 42 pontos percentuais para Bolsonaro (71,02% a 28,98%).
Além da reversão de votos, há outros fatores importantes sobre a eleição no Exterior. Houve o rompimento do histórico de baixa adesão. Em alguns lugares, os eleitores demoravam até quatro horas para votar.
Lula ganhou na maior parte dos países da Europa - em Portugal, França, Reino Unido, Alemanha e até na Hungria, país governado pelo primeiro-ministro Viktor Orbán, político de extrema direita aliado de Bolsonaro. No maior colégio eleitoral fora do Brasil, em Lisboa (Portugal), o petista chegou a 61,6% contra 30,58% de Bolsonaro. A exceção europeia foi a Grécia, onde Bolsonaro venceu.
O candidato à reeleição também ganhou nos Estados Unidos, no Japão e em Israel. No país do Oriente Médio, cuja bandeira aparece frequentemente entre manifestantes que apoiam Bolsonaro, o candidato conquistou 45,98% dos votos, contra 39,37% de Lula. Nos EUA, o atual presidente ganhou no total, com votações expressivas em Miami e Boston, mas perdeu em cidades como Washington, Chicago, Los Angeles e San Francisco.
Em geral, a eleição no Exterior repetiu a polarização interna. Na Europa, em geral crítica de Bolsonaro, Lula é reconhecido como um líder que costuma ser bem recebido e respeitado pelos governantes. A imagem do governo Bolsonaro lá fora se deteriorou com o avanço do mandato devido a questões como desmatamento e queimadas na Amazônia, alinhamento incondicional a Donald Trump, negação da gravidade da pandemia de covid-19, que resultou em números exorbitantes de mortos e caos em hospitais, e o apoio a Vladimir Putin, dias antes da invasão da Ucrânia, em fevereiro. De todos, a demora para obtenção de vacina e a minimização da crise de saúde pública global foram mais decisivas para o voto anti-Bolsonaro.
Ao longo do dia de eleição, redes sociais foram tomadas por fotos feitas no Exterior dos Boletins de Urna (BUs) de seções no Exterior que indicavam a vitória de um e outro candidato em cada seção. Como eram poucos locais de votação em cada país - e os BUs são afixados nas seções - ficava fácil saber quem havia ganho em cada uma delas. Embora a totalização de todos os votos no Exterior pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) só tenha começado às 17h pelo horário de Brasília. Aproveitando-se do fuso-horário, alguns eleitores espalharam informações falsas, com imagens do que seriam notícias de supostas vitórias de Bolsonaro em algumas cidades. Na verdade, em alguns casos se tratavam de reproduções de anúncios que indicavam o início da votação ou mesmo resultados da eleição de 2018.
Neste ano, 697 mil brasileiros estavam aptos a votar no Exterior, aumento de 39,21% em relação ao último pleito presidencial. Havia urnas em 181 cidades fora do Brasil. Lisboa é o maior colégio eleitoral fora do país, concentrando 45 mil pessoas habilitadas a votar, aumento de 113% em relação a 2018. Miami, nos Estados Unidos, ocupa o segundo lugar, com 40 mil.
Veja o resultado da votação no Exterior
Com 99,15% das seções totalizadas
Luiz Inácio Lula da Silva (PT) - 47,13% - 137.643 votos
Jair Bolsonaro (PL) - 41,63% - 121.591 votos
Ciro Gomes (PDT) - 4,54% - 13.257 votos
Simone Tebet (MDB) - 4,47% - 13.053 votos
Felipe D'Avila (Novo) - 1,28% - 3.752 votos
Soraya Thronicke (União Brasil) - 0,26% 753 votos
Sofia Manzano (PCB) - 0,21% - 613 votos
Vera (PSTU) - 0,16% - 462 votos
Padre Kelmon (PTB) - 0,12% - 342 votos
Léo Péricles (UP) - 0,11% - 318 votos
Constituinte Eymael (DC) - 0,09% - 257 votos
Fonte: TSE