Desde o momento em que a rainha Elizabeth II fechou os olhos para sempre, no Palácio de Balmoral, no último dia 8, Charles, seu filho, converteu-se em rei. Lá se vão 11 dias, que indicam como será o novo reinado.
Nesse período, Charles III, que como príncipe contemporâneo precisou conviver com o escrutínio das lentes da mídia, foi flagrado em vários momentos que permitem antever o que virá após sete décadas de Elizabeth.
Charles III protagonizou nesses últimos dias momentos de irritação - destempero com funcionários no momento em que a mesa não estava vazia para que se posicionasse ou diante da falha da caneta. São situações corriqueiras, que não ganhariam atenção não fosse Charles rei.
Por outro lado, ele também demonstrou uma proximidade com o público, muito maior do que Elizabeth mantinha - desde o momento em que voltou de Balmoral, em que desceu do carro para olhar as flores depositadas em frente ao Palácio de Buckignham, até situação em que apertou mãos de súditos e chegou a ser beijado por pessoas que ali estavam.
Charles não tem o mesmo carisma nem popularidade da mãe. Mas tem se esforçado.
Pela frente, terá como desafios principais manter a unidade do Reino Unido e preservar a monarquia - algo que Elizabeth fez com maestria. Porém, a prova será justamente fazer isso em uma era de novas mudanças sociais, onde os gastos reais são cada vez mais questionados (principalmente em tempos de crise econômica, como a atual) e monarquias são anacronismos em democracias.
Equilibrar continuidade e tradição com renovação não será simples.
Sem falar de aspectos políticos. A Escócia deve realizar um referendo pela independência em relação ao resto do Reino Unido no ano que vem - em 2014, em uma consulta desse tipo, os escoceses rejeitaram a separação. Irlanda do Norte (unida ao país) e Irlanda (uma nação independente) também pensam em realizar um referendo sobre a unificação dos dois territórios - o que, além da separação da Irlanda do Norte, implicaria o retorno dessa região à União Europeia.
Na Commonwealth, a comunidade de nações, alguns países, como a Austrália, querem deixar de ter Charles como chefe de Estado. E alguns começam a discutir a conversão da monarquia em república. Em Antígua e Barbuda e Jamaica esse debate está mais avançado. Barbados já se tornou república no ano passado.
Movimentos desse tipo também voltaram a aflorar nesses últimos 11 dias. Foram mais barulhentos nas redes sociais, com a hashtag "notmyking" do que nas ruas. Mas algumas manifestações foram duramente reprimidas pela polícia, inclusive com prisões.
O comportamento de Charles III será determinante para equilibrar essas tensões. Como príncipe, ele viveu escândalos e reconstruiu narrativas. Como rei, precisará se conter nas falas políticas sem deixar de expor seu lado humano - afinal, dessa desconstrução, também depende o futuro da própria realeza.