Então príncipe, agora rei Charles III esteve no Brasil em pelo menos quatro ocasiões: 1978, 1991, 2002 e 2009. Em sua primeira viagem, uma das pessoas mais próximas a acompanhar o herdeiro do trono foi a embaixadora gaúcha Leda Lucia Camargo, que, ao longo de 50 anos de diplomacia, chefiou as missões brasileiras em Maputo, Praga e Estocolmo.
Aquela viagem de oito dias do agora soberano Charles III começou pelo Rio de Janeiro, passou por São Paulo, Brasília, Belém e terminou em Manaus.
Leda, que hoje está aposentada e mora em Porto Alegre, foi encarregada de ajudar a imprensa estrangeira. Charles veio ao Brasil acompanhado apenas de um oficial e de um agente da Scotland Yard, segundo a embaixadora, que lembra detalhes da visita desde o momento do desembarque:
"A espessura de sua palma (da mão), rude como a de um trabalhador de roça, algo inacreditável para uma pessoa de seu gabarito. Achei que ele deveria certamente plantar em jardim, era uma mão de pessoa trabalhadora com terra ou agricultura, pesadíssima", descreveu a gaúcha em seu livro Os Diplomatas e suas Histórias, pela editora Francisco Alves (leia aqui a entrevista com Leda na íntegra).
Leda lembra também um dos momentos mais emblemáticos de sua viagem: o samba desengonçado do príncipe junto a um grupo da escola Beija-Flor e a visita ao Instituto Butantan. Na véspera do encerramento da viagem, já em Manaus, Leda estava na piscina, ao lado do embaixador Marcos Azambuja, quando ambos receberam um convite transmitido pelo príncipe para jantar. Tinham meia hora. No encontro, muito informal, Charles e Lord Snowdon - já divorciado da princesa Margareth, que lá estava interessado em fotografar a Amazônia -, vestiam camisas havaianas estampadíssimas e idênticas.
- Ele se mostrou em toda a viagem um brincalhão feliz - conta Leda, a única mulher do jantar.
A gaúcha perguntou a Charles como tinha paciência para dar tanta atenção, por exemplo, na visita que fizeram a uma fábrica. Na ocasião, mostraram-lhe uma máquina "sem graça" colocando azeite dentro de uma garrafa.
- Ah, pois é, desde pequeno fui ensinado assim, o que vai se fazer, a gente aprende a olhar e mal vê. A minha mãe também é assim - afirmou Charles.
Quando lhe serviram um sorvete branco, conta Leda, Charles ficou com a colher na mão, perguntando, "como criança", nas palavras de Leda, qual sabor e se podia provar.
- Nunca sente curiosidade de passear sem um acompanhante da Scotland Yard? - perguntou Leda.
- Sabe, não sei o que é andar sozinho, e a gente não sente falta do que não conhece - respondeu Charles.