O primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, mal colocou os pés de volta no país, depois de um giro por fóruns internacionais, como o G-7 e a cúpula da Otan, na semana passada, e seu governo começou a desmoronar. De novo, você dirá, ao lembrar que, um mês atrás, ele sobreviveu a um voto desconfiança do próprio Partido Conservador em razão das festinhas em Downing Street durante o lockdown.
Pois é, mas agora parece mais grave sua situação. Tanto que mais de 30 funcionários do governo, entre eles seis ministros, renunciaram nas últimas 30 horas.
O fogo amigo é direto. O estopim atual foi a escolha de Chris Pincher como número dois do partido no parlamento. O cargo chama-se "deputy chief whip", uma espécie de vice-líder do governo. Ele foi nomeado em 2019, apesar das acusações de abuso sexual. Pincher admitiu que tocou nas partes íntimas de colegas deputados durante uma festa, na qual havia "bebido muito" e "constrangido" a si e a outras pessoas, segundo suas palavras ditas ao renunciar, em 30 de junho.. Ele já havia enfrentado acusações de semelhantes de outros integrantes do partido.
Johnson mudou a versão várias vezes, primeiro negando saber das acusações e, depois, em entrevista à BBC, acabou por confirmar que "foi dito" a ele "em uma conversa".
Nas últimas horas, os poderosos ministros das Finanças, Rishi Sunak, e da Saúde, Sajid Javid, renunciaram, caminho seguido pelo vice-presidente do partido, Bim Afomali. Esse último debandou ao vivo, na TV, alegando falta de confiança no líder.
Nesta quarta-feira (6), enquanto era bombardeado por vozes ferozes da oposição e de seu próprio partido, Boris Johnson disse que não irá renunciar. Mas o apoio cai drasticamente, inclusive do público. Uma pesquisa YouGov realizada na terça-feira (5) mostra que 69% dos britânicos acreditam que ele deve sair.
Os escândalos se acumulam. No mês passado, ele sobreviveu a moção de desconfiança do Partido Conservador, com uma maioria de 63 votos. Houve uma mudança de regras pelas quais o primeiro-ministro, agora, estaria livre de um processo semelhante por pelo menos um ano. Mas a própria legenda busca uma outra forma de retirá-lo do poder.
Uma vez que renuncie, os conservadores poderiam escolher outro líder do partido, e a legenda, pelas regras do parlamentarismo, seguiria comandando o país. Ou convocar novas eleições em 60 dias.
Johnson ameaça, por sua vez, convocar novo pleito a fim de testar sua popularidade.