Rodrigo Lopes

Rodrigo Lopes

Formado em Jornalismo pela UFRGS, tem mestrado em Ciência da Comunicação pela Unisinos e especialização em Jornalismo Ambiental pelo International Institute for Journalism (Berlim), em Jornalismo Literário pela Academia Brasileira de Jornalismo Literário, e em Estudos Estratégicos Internacionais pela UFRGS. Tem dois livros publicados. Como enviado do Grupo RBS, realizou mais de 30 coberturas internacionais. Foi correspondente em Brasília e, atualmente, escreve sobre política nacional e internacional.

Crise internacional
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Por que a Rússia ganha com as renúncias de Boris Johnson e Mario Draghi

Chefe do Executivo italiano há apenas 17 meses, economista apresentou pedido para deixar o governo na quinta-feira (21)

Rodrigo Lopes

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Dmitry AZAROV / SPUTNIK/AFP
Vladimir Putin, presidente da Rússia

A Rússia ganha com a queda de Mario Draghi, primeiro-ministro da Itália, que apresentou renúncia na quinta-feira (21), após o colapso da coalizão de governo, que durou apenas 17 meses. Vladimir Putin sai vitorioso, assim como ocorreu com a saída de Boris Jonhson do cargo de chefe do Executivo do Reino Unido, no último dia 7.

Isso ocorre por várias razões. A primeira, e mais simples, é que tanto Draghi quanto Jonhson, em seus governos, são os dois mais vocais adversários europeus do Kremlin na guerra da Ucrânia. Ambos foram a Kiev durante a guerra, prestar apoio ao presidente Volodimir Zelensky, e Draghi, inclusive, tornou icônica a foto em que aparece, a bordo de um trem, a caminho da capital ucraniana, ao lado dos líderes de Alemanha, Olaf Scholz, e da França, Emmanuel Macron. 

A saída de Draghi foi comemorada pelos homens mais próximos de Putin, como o ex-presidente Dmitri Medvedev, que postou em rede social uma imagem com as fotos do italiano e do britânico seguida da pergunta: "Quem será o próximo?"

Segundo porque Putin ganhará sempre com uma Europa desunida, fraca e em crise. Draghi, um economista que chefiou o Banco Central Europeu por vários anos, era uma espécie de guardião da unidade do bloco, que ora enfrenta, além da guerra, inflação nas alturas e crise energética. A Itália, aliás, é, junto com a Alemanha, a principal dependente do gás russo. 

Há mostras de que começa a fazer água a unidade europeia em torno de punir Putin pela invasão da Ucrânia, por meio de sanções econômicas. Nas horas que antecederam a quinta-feira (21), dia em que a Rússia deveria liberar as torneiras do Nord Stream 1, para  fazer voltar a fluir o gás, o continente só faltou suplicar ao Kremlin que reabrisse o gasoduto, após a parada para manutenção técnica.

Em troca, inclusive, já há sinais de flexibilizações nas sanções - o descongelamento de alguns fundos de bancos russos, medidas para facilitar exportações de alimentos pelos portos do país e a suspensão da proibição, pela União Europeia (UE), de fornecimento de equipamentos e serviços de aviação.  

E terceiro porque o cenário italiano, após outubro, quando deve ocorrer a eleição, é de um governo amigo de Putin. Os favoritos na pesquisa são os três partidos de direita - dois deles, de extrema direita. Silvio Berlusconi, o líder da Força Itália, se diz amigo pessoal do líder russo. Matteo Salvini, da Liga, também tem laços com Putin e se opôs à imposição de sanções à Rússia. Giorgia Meloni, do Irmãos da Itália, é a única favorável à Ucrânia, mas lidera um partido eurocético.

Não é exagero dizer que Putin deve ter feito um brinde, na noite de quinta-feira (21) ao olhar, de uma das janelas do Kremlin, para o cenário a Oeste.  

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