Crises externas e internas derrubam, um a um, governos na Europa. No último dia 7, o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, renunciou em meio a um escândalo de reputação. Nesta quinta-feira (21), foi a vez de Mario Draghi, chefe do Executivo da Itália.
A recessão em decorrência da covid-19 e a guerra na Ucrânia pairam sobre o Velho Continente, e diferentes países enfrentam aumentos da inflação e redução do poder aquisitivo de seus cidadãos. No entanto, as engrenagens domésticas são diferentes no Reino Unido e na Itália, na queda e na sucessão. No arquipélago de Sua Majestade, o governo Johnson chegou ao fim devido às festas em Downing Street, no auge da pandemia: uma crise de imagem que levou o próprio Partido Conservador a abandonar seu presidente. Vários ministros se demitiram no mesmo dia.
No caso italiano, Draghi, visto como um técnico, o "Super Mario" que salvou a zona do euro na crise da dívida em 2012, quando era presidente do Banco Central europeu, viu colapsar a aliança de partidos, da extrema direita à esquerda, que sustentou seu governo por 17 meses. Draghi perdeu o apoio do Movimento 5 Estrelas (antissistema, liderado pelo ex-premier Giuseppe Conte), da Força Itália, de Silvio Berlusconi (centro direita), e da Liga, de Matteo Salvini (extrema direita). Era uma coalizão frágil, um balaio de gatos costurado a fórceps.
Ambos os países adotam sistemas parlamentaristas, mas a sucessão se dá de forma diferente: no Reino Unido, o Partido Conservador tem maioria no parlamento, logo, seguirá indicando o primeiro-ministro, sem necessidade de novas eleições. A legenda está em um processo de escolha do presidente. Após a peneira interna, restaram dois: a secretária de Relações Exteriores Liz Truss e o ex-ministro das Finanças Rishi Sunak. Até o dia 6 de agosto, os militantes poderão votar, e um dos dois será o primeiro-ministro. Enquanto isso, Johnson segue no governo, mesmo tendo renunciado.
Já na Itália, os partidos com maiores bancadas são a Liga e o Movimento 5 Estrelas. Mas nenhum tem número suficiente de assentos para governar sozinho. Por isso, foi necessária uma aliança, que contou também com o Força Itália - além de outras legendas menores. À medida que os partidos da coalizão abandonavam o barco, Draghi foi ficando sozinho, sem apoio - e condições - para governar. Como nenhum partido tem maioria, o presidente da República, Sergio Mattarella, precisou dissolver o parlamento nesta quinta-feira (21) e convocou eleições gerais.
Divergências sobre aspectos internos e externos afetam o futuro político da terceira maior economia da zona do euro. Liga, de Salvini, e Força Itália, de Berlusconi, duas forças de direita, ambicionam governar sozinhos a partir do novo pleito, previsto para outubro - ou buscarão se unir à ultradireita dos Irmãos da Itália. Já o Movimento 5 Estrelas, um partido que já foi muito popular, mas que está em busca de identidade, tem divergências com Draghi na resposta à recuperação econômica. Seus líderes queriam mais gastos sociais.
No aspecto externo, Liga, Força Itália e Irmãos da Itália são mais próximos do presidente russo, Vladimir Putin. Draghi, assim como Boris Johnson, era um dos mais críticos líderes europeus contra a invasão da Ucrânia, defendendo o envio de armas para o país de Volodimir Zelensky. Inclusive, assim como o britânico, o italiano visitou o front de Kiev.