Aberta a temporada de debates! Não os debates entre os candidatos na TV e na rádio, mas os debates sobre comparecer ou não... aos debates. Mais: debates sobre se vai ter... debates!
Não é de hoje que presidentes que tentam a reeleição evitam os duelos de ideias na TV e na rádio no primeiro turno das disputas eleitorais. Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Henrique Cardoso não foram, nas ocasiões em que buscavam o segundo mandato. O caso de Lula, em 2006, inclusive, virou tema de estudos acadêmicos de Comunicação, Ciência Política, marketing eleitoral e semiótica: a cadeira vazia deixada pela TV Globo no confronto do primeiro turno.
Aliás, sou a favor da cadeira vazia para quem não vai.
Certa vez, visitei a Bundespressekonferenz, em Berlim, no prédio do sindicato de jornalistas alemães. Lá, há uma tradição: semanalmente, o ministro ou outro representante de cada pasta do governo federal é convidado a comparecer a uma entrevista coletiva para prestar esclarecimentos sobre o andamento dos projetos sob sua gestão. Quando um deles não vai, a cadeira fica vazia. No dia seguinte, o tema é assunto nacional. A opinião pública se pergunta por que, afinal, ele ou ela não foi. A ausência é vista não como desrespeito não aos jornalistas, mas à sociedade como um todo. Quem está no poder tem o dever de prestar contas a quem os colocou lá.
O contexto da última eleição presidencial, em 2018, embaralhou a realização dos debates no Brasil. Jair Bolsonaro foi a dois, em 9 e 17 de agosto, mas ficou impossibilitado, após a facada em 6 de setembro. No caso do PT, Lula foi impedido pela Justiça de participar dos primeiros três encontros. Fernando Haddad, ungido candidato da legenda, compareceu aos demais.
Voltemos a 2022: tanto Bolsonaro, candidato à reeleição, quanto Lula, favorito nas pesquisas, não querem os debates. Ou, no mínimo, preferem não ir.
Desculpam-se, tergiversam, propõem modelos diferentes, em pool, quando emissoras se unem para transmitir, de uma só vez, o programa. Lula disse até que não quer ficar "refém dos debates", usando uma palavra do jargão policial para justificar a agenda cheia de viagens pelo país - ao que parece, considera mais estratégicas as caravanas do que falar a milhões de brasileiros de uma só vez, pela TV e pelo rádio.
Quem está no poder ou à frente nas pesquisas prefere não debater: é vidraça, quando todos os demais candidatos do primeiro turno se voltam contra ele, na tática do inimigo comum. Isso vale também para quem está no poder: é mau negócio, porque será cobrado pelo que fez - e, principalmente, pelo que deixou de fazer.
Diante das ausências de Lula e Bolsonaro, a rede CNN Brasil acabou por cancelar o debate que estava previsto para o dia 6 de agosto e estuda integrar um pool. A Jovem Pan, que realizaria em 9 de agosto o duelo, também o suspendeu. A Band adiou. Estão marcados nove encontros no primeiro turno e sete no segundo, se houver. Os únicos, por enquanto, transmitidos exclusivamente pela internet serão os da Folha de S. Paulo/UOL, previstos para 22 de setembro (primeiro turno) e para 13 de outubro (segundo turno). Os da TV Globo serão em 29 de setembro e 28 de outubro.
Bolsonaro tem dito a aliados que aceitaria participar de um debate "mano a mano" contra Lula, sem a presença dos demais adversários. Isso é impossível, pela legislação atual, em TV e rádio, que, por serem concessões públicas, são obrigadas a chamar todos os candidatos com ao menos cinco representantes no Congresso. Essa hipótese só seria realizável em jornais e portais na internet. A despeito da gritaria das redes sociais e com o perdão a quem diz que se informa apenas pelo Google, o grosso da população brasileira se abastece e forma opinião por TV e rádio. Esses são os únicos veículos de comunicação de massa ainda hoje no Brasil. Não ir a debates é manter-se afastado do escrutínio da maioria dos eleitores.